Ser perseguido pela tesoura do governo militar era algo que já fazia parte do cotidiano deste músico nascido em Montevidéu, Uruguai, e crescido no Brasil. Embora o público se derretesse pelo seu modo quente e poético de falar de amor, a política era algo que lhe apertava o peito e o movia. Isso é o cerne da biografia Os outubros de Taiguara, que marca a entrada da gravadora Kuarup no meio editorial. Junto com o livro, sai o disco Ele vive, com canções inéditas que ficaram esquecidas nos arquivos do compositor de Universo do teu corpo.
A censura federal foi a grande responsável pelo definhamento da carreira de Taiguara, que alimentava a sanha policial com longos discursos e posturas cada vez mais radicais. Marxista ferrenho, ele não bebia Coca-cola nem usava jeans. Entre seus amigos estavam líder Luis Carlos Prestes (a quem dedicou a canção O cavaleiro da esperança) e o educador Paulo Freire. Como resultado disso, foi um dos nomes mais visados pela caneta federal tendo mais de 80 músicas oficialmente proibidas de serem gravadas ou cantadas publicamente.
Como Taiguara se viu sufocado e abandonou a carreira, uma parte substancial de sua obra acabou ficando inédita e outras até inacabadas. Onze destas preciosidades estão presentes em Ele vive, ao lado dos sucessos Modinha, Helena, Helena, Helena, Hoje e Outubro. Estas últimas surgem em pungentes versões ao vivo, interpretadas apenas ao piano. Já as inéditas foram retrabalhadas a partir dos registros deixados em fitas cassetes. Acrescidas de teclados, baixo e outros instrumentos, as faixas ainda preservam uma crueza que dá a entender que algumas delas estavam sendo criadas no momento da gravação.
As canções de Ele vive revelam a porção mais militante de Taiguara falando sobre a exploração da mulher (Conflito), questões raciais (Sou negro) e igualdade social (O catador de milho). Mesmo sem muita bossa, também é esse lado combativo que ressalta na biografia Os outubros de Taiguara. Sem receber ou dar trégua, foi denunciando desrespeitos e tomando pancada que ele se tornou “brasileiro”. Que em 2015, seus 70 anos de nascimento sirvam de mote para mais lançamentos.