O termo foi criado pelo jornalista baiano Hagamenon Brito para escrachar aquela turma que veio na cola de Luiz Caldas. A ideia de unir a “axé”, saudação do candomblé, com o “music” ironizava as pretensões internacionais do estilo e fazia pouco de um estilo, até então, visto como brega e passageiro. Trinta anos se passaram e as previsões do jornalista, mais ligado à escola do rock, não se confirmaram. Pelo contrário. Timbalada, Banda Eva, Sarajane, Daniela Mercury, Netinho e outros tantos baianos reinaram absolutos nas rádios e trios elétricos dali até meados da década seguinte.
A canção Fricote nasceu quando o parceiro Paulinho Camafeu ouviu uma brincadeira de dois homens dirigida a uma mulher que andava pelo Pelourinho, famoso bairro soteropolitano. “Pega ela aí!” “Pra quê?” “Pra passar batom!” Daí veio o refrão da música mais conhecida como Nega do cabelo duro. E Luiz Caldas não esconde o orgulho de ter iniciado essa história que acabou influenciando a música brasileira como um todo. “A Axé Music ocupou e ocupa uma fatia do mercado da música, fortaleceu e fortalece o Carnaval de Salvador e fez e faz explodir as micaretas pelo Brasil. A sonoridade em si, por ser híbrida, valorizou e valoriza em certa medida o campo percussivo e trouxe consigo a dança de rua”, analisa em entrevista por email.
De fato, o termo Axé Music se refere mais a uma geração de artistas, que a um estilo, uma vez que o ritmo propagado por eles vem de uma mistura azeitada de reggae, ska, samba, ijexá, jongo e outros sons africanos e caribenhos. Com a explosão de sons baianos e carnavais fora de época pelo Brasil, medalhões da MPB abraçaram o Axé em seus trabalhos, como Marisa Monte e Caetano Veloso. Margareth Menezes lembra que, ao longo desses anos, dividiu seu trio com nomes como Hermeto Paschoal, Leila Pinheiro e Marina Lima.
“Eu prefiro dizer que o Axé é a música brasileira”, resume outra protagonista dos melhores anos da música baiana, a cantora Márcia Freire, ex-vocalista da banda Cheiro de Amor. Ela lembra que os tempos cantando em barzinho passaram uma segurança para abordar um repertório cada vez mais eclético e que foi se misturando cada vez mais. “Por isso eu digo que o sertanejo é o Axé. O próprio forró usa o galope. Tudo isso é música brasileira, que foi influenciando a MPB. A gente pode passear por outros ritmos por que a música baiana dá esse feeling”, determina.
E é por isso que Márcia não acredita em crise na Axé Music. “Como vai ter queda uma música que é brasileira?”, questiona concordando, por outro lado, que os sertanejos vêm tomando um espaço no mercado que antes era dos baianos. Mas, para ela, isso só é problema quando chega a hora de subir no trio elétrico. “Não acho ruim ter sertanejo em cima de trio. Mas, a Bahia poderia dar mais valor aos seus artistas. Às vezes, os empresários trazem montes de sertanejos e não contratam os artistas que começaram esse movimento”, lamenta
Filho do de Osmar Macedo, criador do trio elétrico ao lado de Dodô (Antônio Adolfo Nascimento), Armandinho comenta que a crise não está na música da Bahia, mas em como ela tem sido vendida para o público. “É como criança. Se você alimentar o povo com porcaria, ele só vai querer comer isso. É preciso apresentar coisas que tenham história. Hoje, a maioria é ‘oba, oba’, uma sacanagem qualquer. Tudo bem que exista, mas a mídia teria que ser mais democrática”, dispara apontando a corrida empresarial como o principal problema. “No começo era o Axé que vendia, pura manifestação da Bahia. Quando esse movimento começa a não ter o sucesso desejado, o que é natural, os empresários começaram a contratar artistas de fora”.
Mas, se o empresariado baiano não dá a devida atenção aos seus conterrâneos, cabe aos próprios artistas se unirem. Para Amandinho, isso tem sido uma constante entre as novas e antigas estrelas do Axé. “Estou fazendo 51 anos de trio elétrico e, muito antes de haver essa combinação, já fazia parte dessa coisa da Bahia. Hoje, o pessoal não é capaz de chamar o A Cor do Som ou o Gilberto Gil de Axé. Mas, se forem cantados pela Ivete, é Axé. Somos axé mesmo”, encerra o músico que já tocou sua guitarra baiana ao lado de Cláudia Leitte, Durval Lelys (Asa de Águia), Ivete Sangalo e muitos outros nomes da cena. “É muito bacana por que existe um respeito. Eu digo que Dodô e Osmar pariram a guitarra baiana, mas eu criei. Se o Carnaval não está focado nisso, eu estou levando essa história para a frente”.