79581820Além dos pratos das vitrolas e CD-players, e das mesas de bar, a recente música cearense vai ganhar um novo espaço. A história de nomes como Lauro Maia (1913 – 1950), Ednardo e Eugênio Leandro está prestes a fazer parte do currículo da licenciatura em Música da Universidade Federal do Ceará (UFC). Parte de uma série de mudanças curriculares do curso, está tramitando uma alteração na disciplina de História da Música 3, para que ela passe a se deter na produção musical cearense, desde Alberto Nepomuceno (1864 – 1920) até os mais jovens compositores, músicos e intérpretes locais, como Caio Castelo e Edson Távora Filho.

No currículo que está sendo revisto, a parte de história da música é dividida em três períodos. Em História da Música 1, são estudados os principais compositores europeus, como Mozart ou Beethoven. A História da Música 2 se debruça sobre a música popular brasileira como um todo. Já em História da Música 3 são vistos os compositores contemporâneos, mas a ementa do curso direciona para os compositores eruditos. Com a mudança prevista para esta última disciplina, o currículo vai incluir períodos seminais da cultura local, como o Pessoal do Ceará, a Massafeira, a geração de compositores dos anos 1990 até a cena atual. Nesse percurso, nomes como Humberto Teixeira (1915 – 1979), Luiz Assunção (1902 – 1987), Mona Gadelha e Dilson Pinheiro, entre outros, também ganharão espaço.

Embora ainda não formalizada a mudança, esses assuntos já entraram em pauta no curso, que vem contando com visitas de nomes como o cantor Marcus Caffé, falando sobre Humberto Teixeira, e Amaudson Ximenes, presidente da Associação Cearense do Rock (ACR), e do baterista Carlinhos Perdigão, falando sobre a cena roqueira do Ceará. Na nova bibliografia básica prevista para a disciplina, estão obras como Terral dos sonhos – O cearense na Música Popular Brasileira (Mary Pimentel Aires), No tom da canção cearense (Wagner Castro), Massafeira 30 anos (Ednardo) e Pérolas do Centauro (Pingo de Fortaleza), além dos perfis de Lauro Maia, Alberto Nepomuceno, Paulo Abel e Irmãos Aniceto publicados na coleção Terra Bárbara, das Edições Demócrito Rocha.

Para Pedro Rogério, professor de História da Música 3, a “supervalorização dos europeus demonstra uma posição colonizada. Reconhecemos toda a tradição europeia, mas não somos reconhecidos na mesma proporção”. Filho de Rodger Rogério e Teti, artistas cearenses que dividiram com Ednardo o fundamental álbum Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem (1973), ele esclarece que a aprovação por parte dos professores é a primeira etapa, mas a mais importante. Em seguida, a proposta segue para o colegiado do Instituto de Cultura e Arte (ICA) e para as câmaras superiores da Universidade. “Mas, quando chega nessas instâncias, é para dar mais segurança institucional”, adianta. A expectativa do curso é que a mudança já entre em vigor no primeiro semestre de 2016.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles