angela-maria-faourPor Jader Santana (jader.santana@opovo.com.br)

Milhões de discos vendidos, dezenas de canções nas paradas de sucesso, centenas de troféus, mais de 250 capas de revistas e quase 70 anos de carreira: Angela Maria apareceu no final dos anos 1940 e, aos moldes de um furacão, arrebatou uma geração de fãs acostumados aos lamentos radiofônicos de Dolores Duran, Maysa e Nora Ney.

Mas antes de ser Angela Maria – e receber o maior salário do rádio na época – ela foi Abelim Maria da Cunha, garota do município fluminense de Macaé nascida em uma família humilde, cujo pai era pastor da igreja evangélica. Conhecer sua vida pessoal – suas idas do céu ao inferno – é fundamental para desvendar uma das personalidades mais importantes da música brasileira do século passado.

“Toda a história de vida dela é muito rica. Ela veio de uma origem miserável, mas sempre pensou que ia ser rica e famosa, e conseguiu. Em muito pouco tempo ela desbancou suas rivais. Ainda teve grandes problemas com maridos-empresários, mas sempre teve um público muito forte. É uma história pessoal tão forte que as coisas poderiam parecer inventadas, e por isso o livro é tão grande”, explica Rodrigo Faour, jornalista carioca que se debruçou sobre a figura da cantora e acaba de lançar a biografia Angela Maria: A eterna cantora do Brasil.

Nascido no início dos anos 1970, Rodrigo parece nutrir um fascínio pelos Anos de Ouro do Rádio. Workaholic assumido, escreveu as biografias de Cauby Peixoto, Dolores Duran e Claudette Soares. “A década de 50, para a música, ficou muito estigmatizada como algo cafona, de menor importância, e eu discordo disso. São anos subestimados e pouquíssimas pessoas escreveram sobre”, explica.

Para a biografia de Angela, o autor fez uma extensa pesquisa em notícias e artigos publicados em jornais e revistas – “praticamente todos os dias alguma coisa era publicada sobre ela” – e conversou com parentes, amigos e colegas de trabalho que acompanharam a trajetória da cantora.

O autor não se furta de comentar momentos controversos da carreira da diva. As faixas, coroas e prêmios dividem espaço com o marido que foi parar na cadeia depois de dilapidar seu patrimônio, o flerte com Louis Armstrong e as puxadas de tapete do universo do rádio. “Não quis fazer um livro falando sobre troféus, mas sim contextualizar sua história e seu comportamento”, justifica.

Depois de divergências com o autor sobre alguns assuntos abordados na obra, Angela aceitou participar do lançamento da biografia no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Não foi um processo fácil, ela não gosta de falar do passado”, revela Rodrigo. Em meio a pedidos de fotos e autógrafos, biografista e biografada se reconciliaram. Impossível estar de mal com uma diva.

Serviço:
Angela Maria – A eterna cantora do Brasil
De Rodrigo Faour
880 páginas
Editora Record
Preço médio: R$ 85

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles