Lá em Lajeado, Rio Grande do Sul, um garoto ouviu aquela voz grave e doce, e também se impressionou. Vinte e cinco anos depois, Filipe Catto, já estabelecido como uma das grandes vozes de sua geração, resolveu homenagear a cantora em um tributo que chega hoje a Fortaleza. No palco da Caixa Cultural, o gaúcho de 28 anos expõe as semelhanças e diferenças que tem com a garotinha atrevida que mostrava os peitos e cuspia durante os shows. Embora mais contido, ele também assume a porção roqueira e a admiração pela artista falecida em dezembro de 2001. Confira a seguir entrevista em que o cantor fala sobre como este tributo se reflete em seu trabalho autoral.
O POVO – Queria começar com a história desse show em homenagem à Cássia. Como nasceu, seleção de repertório, o que queria mostrar na obra dela.
Filipe Catto – Eu queria fazer uma homenagem sincera, de fã mesmo. Queria cantar aquele repertório que temos em comum, as músicas que eu poderia ter gravado, que têm a ver com minha voz também.
OP – Como você entrou em contato com a obra da Cássia? Lembra a sensação da primeira vez que ouviu?
Filipe Catto – Eu sempre adorei a figura da Cássia, da televisão, das rádios… Sempre achei ela muito autêntica! E aquela voz forte… Eu lembro de ouvir Por enquanto no rádio, nos anos 90, e de me encantar com aquela interpretação tão sentida. Depois fui conhecer Malandragem, ECT e me apaixonando pela versatilidade e o carisma da Cássia.
Filipe Catto – Eu acho que isso foi o elo de ligação: essa estranheza, esse lugar da androginia. O fato das nossas vozes serem diferentes foi uma das coisas que eu me intensificava com a Cássia, e a verdade é que cantamos no mesmo tom. Não tive de transpor os tons das músicas. Nessa região intermediária entre o masculino e o feminino da voz rolou o encontro.
OP – Sempre percebi uma certa inclinação da sua música para o rock, mesmo que ainda tímida. Você tem vontade de mergulhar mais nesse estilo?
Filipe Catto – Eu venho do rock, né? Minhas primeiras experiências com a música são rock. Eu me tornei um intérprete, mas no início era um vocalista. Eu acho que o rock sempre vai estar no meu trabalho, como inspiração e inclinação, mesmo quando eu cantar um samba.
OP – Além da Cássia, quais suas referências no rock?
Filipe Catto – Toda a geração 80 e 90 do pop e do rock nacional me influenciou muito, porque eu ouvia a radio Pop, e esses caras tocavam lá. De Rita Lee a Lobão, eu adoro esse cancioneiro. Amo também PJ Harvey e Jeff Buckley, Stones, Doors…
OP – De que forma esse show em homenagem à Cássia dialoga com sua obra autoral? Tem vontade de registrar esse tributo?
Filipe Catto – Não tenho. Esse é um projeto que só se justifica no palco, é um show de um fã para seu ídolo. Esse repertório é definitivo na voz da Cássia, é uma delícia de cantar ele com a galera, mas hoje minha prioridade é me nutrir dessa energia para colocar na minha história. O Tomada é consequência desse show, com certeza. Sinto que ele só existe porque eu fiz o show em homenagem a Cássia. Nesse sentido, o show cumpriu esse papel.
OP – Cássia Eller tem um início mais roqueiro, mas encerrou a carreira numa linha mais calma, mais MPB. Você tem preferência por um desses lados do trabalho dela?
Filipe Catto – Eu adoro tudo, sabia? Adoro ela cantando “Rubens” e também adoro ela cantando Nando Reis. A Cássia era um monstro da voz, tudo que ela cantava era verdade.
OP – Sobre Tomada, como tem sido a repercussão desse novo trabalho?
Filipe Catto – To amando o Tomada! É um disco muito amado, com parcerias lindas… Sinto que estou num momento muito privilegiado, podendo trocar com as pessoas que eu admiro.
OP – Queria que você me falasse desse disco novo, que diferenças e semelhanças ele tem em relação ao Fôlego.
Filipe Catto – Eu acho que a essência é igual: é um disco de cantor, de intérprete. O que muda é a estética, a linha de repertório. O Tomada é um disco sobre amor nos dias de hoje, é um disco sobre 2015. O Fôlego é mais nostálgico, mas ambos são muito pessoais. São facetas diferentes da mesma pessoa.
OP – Depois de uma experiência bem sucedida com Dadi e Paul Ralphes, o que você queria do produtor Kassin para o novo álbum?
Filipe Catto – Queria que o Kassin me surpreendesse, que me trouxesse possibilidades novas. Queria me ouvir de uma forma nova, queria saber qual era o olhar dele e dos envolvidos sobre minha música. Acho importante tudo isso. O Tomada marca o início de uma época de parcerias na minha carreira. Eu sempre fiz tudo muito sozinho, precisava deste olhar pra poder dar uma reciclada e continuar a jornada.
OP – Seu disco de estreia saiu por uma grande gravadora. O que achou dessa experiência? Sendo o novo feito através de edital, você sentiu mais liberdade para trabalhar?
Filipe Catto – As duas formas são bacanas, eu não vejo o mercado como “gravadoras são do mal e o independente é do bem”, como as pessoas adoram separar. Trabalhar com o projeto na verdade traz muito mais responsabilidades, o que é maravilhoso porque o aprendizado é imenso. Eu acho que ter trabalhado com gravadoras me preparou para trabalhar independente neste projeto.
OP – 2016 já está chegando. Quais são suas expectativas para este novo ano?
Filipe Catto – Quero viajar muito, cantar muito e voltar logo pra Fortaleza com o repertório do disco novo!
Serviço:
Filipe Catto canta Cássia Eller
Quando: hoje, 17, a sábado, 19, às 20h; domingo, 20, às 19h
Onde: Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Telefone: 3453 2770