Radicados em São Paulo já há algum tempo, os membros do Cidadão Instigado transformaram-se numa espécie núcleo de renovação da música brasileira. De forma silenciosa, eles foram se colocando no cenário independente e contribuindo com os mais variados artistas. Como músicos ou produtores, juntos ou separados, eles estiveram ao lado de gente como Otto, Céu, Vanessa da Mata, Arnaldo Antunes, Bárbara Eugênia, só para citar alguns da lista que só cresce.

No entanto, o sexteto guiado pelo guitarrista e vocalista Fernando Catatau nunca esqueceu que essa história começou no coração de Fortaleza, mais exatamente numa garagem na Varjota, onde eles começaram a ensaiar há 19 anos. Por isso que a banda, formada ainda por Dustan Gallas (guitarra, teclado e vocais), Regis Damasceno (baixo e vocais), Rian Batista (violão, teclado e vocais), Clayton Martin (bateria e sampler) e Yury Kalil (P.A. e efeitos) resolveu abraçar, afagar e puxar as orelhas da cidade que os pariu no disco de estúdio lançado este ano.

Batizado sem rodeios como Fortaleza, o álbum será apresentado em única apresentação esta noite no Cineteatro São Luiz. “Pra gente ta sendo um lance muito emocionante por ser num espaço tão importante da nossa cidade”, destaca Catatau, por telefone, lembrando que ele conhece o lugar desde quando ia assistir filmes na juventude. “A gente sabe que a Cidade foi praticamente devastada e ficaram poucos símbolos da nossa história. Você conta nos dedos o que ainda têm. O (Cine) Diogo foi destruído. É importante ter uma resistência. Pra gente é algo muito marcante”, completa colocando o dedo em uma das feridas mais profundas em relação política patrimonial da capital cearense.

“A elite foi pros prédios e o povo sem perceber que a Fortaleza Bela ninguém mais podia ver. Culpa desses governantes que nos pisam com poder”, critica a banda na música que dá nome ao novo álbum. “Essa visão tapada de modernidade não leva a nada. Modernidade é as pessoas cuidarem do próprio ser humano”, alerta Catatau, acrescentando que a realidade em São Paulo não é muito diferente. “O paulista é super conservador, tem preconceito pra caramba com nordestino. Escarra quem é pobre. Tem muita educação, mas você não sabe até onde ela vai. Acho todos os burgueses são mais ou menos parecidos”, analisa.

Para dar corpo às palavras fortes de Fortaleza, o Cidadão Instigado acentuou o peso instrumental. Pescando referências nos violeiros nordestinos e nas viagens sonoras do Pink Floyd (banda que os cearenses homenagearam em um projeto paralelo), além do brega e do indie, o disco vem colhendo elogios e venceu como melhor disco do ano na 22ª edição do Prêmio Multishow, em eleição feita pelo júri formado por jornalistas e críticos de música. “Foi uma surpresa. Não esperava porque esses prêmios são de cartas marcadas. Ninguém ta competindo na real, mas é um reconhecimento. Para o meio independente é muito importante”, comemora.

 

Com Fortaleza caminhando pelo Brasil, o Cidadão instigado segue sua estrada plural de idéias e projetos. Entre eles, Catatau está envolvido com o novo álbum do mutante Arnaldo Baptista, ainda sem data de lançamento. Outro plano para 2016 é comemorar os 20 anos de banda. As conversas já começaram, mas nada ainda está definido. Acompanhemos.

Serviço:
Cidadão Instigado
Quando: hoje, 19, às 20 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 – Centro)
Quanto: R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira)
Telefone: 98799 1723

Multimídia:
O disco Fortaleza está disponível para audição e donwload gratuito pelo site oficial da banda

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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