rita-leeDe menina má da Tropicália até ser canonizada (por iniciativa própria) como Santa Rita de Sampa, Rita Lee Jones fez muita confusão e música boa. Isso é o que mostra o box de 21 discos que chega às lojas este mês. A caixa Rita Lee chega a tempo de comemorar os 68 anos da compositora, completados no próximo dia 31. Esta é a segunda vez que Rita tem sua obra relançada em formato digital, mas a primeira em que o material vem reunido em um único produto. Batizado somente com o nome da roqueira paulistana, o pacote cobre o período que vai da estreia solo 1970 até 2004, com o Ao Vivo MTV.

Abrindo com Build up (1970), o box Rita Lee faz uma breve visita no período em que ela ainda estava ao lado dos Mutantes. Lançado no mesmo ano do clássico A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, o primeiro disco solo de Rita só é solo na capa, uma vez que foi todo dividido com os companheiros de banda. A produção, inclusive, é dividida pelo então marido Arnaldo Baptista com o maestro tropicalista Rogério Duprat. O mesmo acontece em Hoje é o Primeiro Dia do resto da Sua Vida (1972), mais um trabalho dos Mutantes que foi assinado só pela vocalista para não rivalizar com outro lançamento da banda, Mutantes e seus Cometas no País dos Bauretz (1972).

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Solo mesmo, a carreira de Rita Lee só fica em 1974, quando o álbum (menosprezado) Atrás do Porto tem uma Cidade apresenta a banda Tutti Frutti. Ao lado de virtuoses como o baixista Lee Marcucci e o guitarrista Luis Sérgio Carlini, a ruiva se lambuzou na pegada roqueira flertando com o glam de David Bowie. É dessa época o clássico Fruto Proibido (1975), que apresentou o hino Ovelha Negra. É verdade que ela nem era a ovelha negra da família, mas a música pegou fácil. Foram cinco discos com o Tutti Frutti, incluindo o esquecido Refestança, dividido com Gilberto Gil. A propósito, vale conferir a releitura do baiano para Ovelha Negra.

Foi aí que, em algum momento da década de 1970, Rita conheceu Roberto de Carvalho por intermédio de Ney Matogrosso, com quem o guitarrista tocava. Atraída pelo som e pelos ombros do músico, ela propôs a ele uma parceria que se estendeu do palco para a cama. Casados e pais de três filhos, eles se tornaram uma entidade única da música brasileira passando a assinar uma série de discos em conjunto. Para uns, Roberto puxou o freio de Rita e soterrou seu rock com muitas camadas de pop. Mas é indiscutível que foi ele quem deu a ela seu período de maior popularidade.

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Desse período, alguns discos merecem destaque. Rita Lee (1979) marca a estreia oficial da dupla e mais parece uma coletânea de hits. O mesmo acontece em 1980, no disco homônimo que “lançou perfume” nas rádios. Mais para a frente, Rita Lee e Roberto de Carvalho (1990) é impecável com a belíssima Perto do Fogo, parceria com Cazuza. De 1997, em Santa Rita de Sampa traz o rock mais para frente e gerou uma turnê de sucesso. Aproveitando a boa fase, ela ainda gravou seu Acústico MTV (1998) e brincou com a música eletrônica em 3001 (2000).

Para completar o box Rita Lee, uma coletânea inédita resgata 13 faixas obscuras que andavam espalhadas em discos alheios. Algumas delas já haviam sido reunidas em 1997, na série Meus Momentos 2. É o caso de Arrombou a Festa, Caçador de Aventuras e a irônica Fonte da Juventude. Além delas, tem Felicidade, feita para a campanha Rider Hits, e Dias melhores virão, trilha do filme de Cacá Diegues que conta com a própria roqueira no elenco.

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Sem disco inédito desde 2012, quando lançou Reza, Rita Lee está preferindo um tempo longe dos holofotes. Nesse mesmo ano, ela anunciou sua aposentadoria dos palcos e se envolveu numa polêmica em Sergipe, quando ela acusou um grupo de policiais de agredir parte do seu público por estar usando maconha. Mais uma vez, ela foi baixar na delegacia para dar explicações. Em seguida, assumiu os cabelos brancos e a reclusão, deixando a curiosidade sobre um possível retorno à música.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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