“A primeira coisa de que lembro é voar de volta para a América com o nosso empresário de turnês Mal Evans. Durante nossa refeição, estávamos falando sobre sal e pimenta, o que foi entendido como ‘sargento Pimenta’ (na pronúncia em inglês)”, lembra Paul McCartney, na reedição do disco Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, lançado em 1967 e recebido como um susto de proporções incalculáveis. “Eu então tive a ideia para a música Sgt. Peppers… e pensei que seria interessante para nós fingir, durante a execução do disco, que éramos membros desta banda em vez dos Beatles”, continua o baixista.
Voltando um pouco no tempo, o quarteto já vinha se afastando dos tempos de iê iê iê há alguns anos, desde que lançaram Rubber Soul dois anos antes. Revolver, de 1966, continuou e amplificou as possibilidades sonoras, absorveu novas influências e tornou a música dos Beatles mais eclética. Já decididos a não realizar mais shows, eles teriam o estúdio como principal plataforma de criação e experimentação. Num ano engarrafado de clássicos do rock – The Doors, Are You Experienced (Jimi Hendrix), John Wesley Harding (Bob Dylan), Big Brother & the Holding Company, The Who Sell Out, The Velvet Underground and Nico, The Piper At The Gates Of Dawn (Pink Floyd) –, o oitavo álbum dos Beatles foi apontado pelo crítico Kenneth Tynan (The Times) como “um momento decisivo na história da civilização ocidental”.
Da capa dupla icônica ao repertório irretocavelmente confuso (trata-se do primeiro disco a trazer um encarte com letras), tudo em Sgt. Peppers… rendeu reedições, releituras, estudos e opiniões. Entre as muitas publicações, uma se destaca por trazer a visão de quem esteve ao lado de John, Paul, Ringo e George dentro do estúdio dois de Abbey Road. O livro Paz, Amor e Sgt. Pepper foi lançado por George Martin em 1994 e traduzido para o português no ano seguinte. “Você se sente como uma mosca dentro do estúdio. Tem muitas histórias de bastidores, sobre como eles gravaram”, adianta Marcelo Fróes, responsável pela edição nacional.
Aproveitando o gancho dos 50 anos, Paz, Amor e Sgt. Pepper está sendo relançado no Brasil num box exclusivo para o público brasileiro. Embalado num formato de bumbo (como o da capa do álbum), o livro vem junto do disco remasterizado por Giles Martin (filho de George), além de pôster e blusa. “O George tinha dirigido e apresentado um documentário sobre o Sgt Peppers, que não pode ser lançado em VHS. Foi exibido só na TV. Ele, então, acabou fazendo o livro com depoimentos e muitas coisas que não foram ditas no filme”, detalha Marcelo, também autor do livro Os Anos da Beatlemania (co-assinado por Ricardo Pugialli).
Entre as passagens mais marcantes do livro para Marcelo, está a de George contando sobre como percebeu que a banda estava usando drogas. “O John estava muito alterado. Num momento, ele foi para o teto da Abbey Road e estavam com medo dele pular. Ele poderia ter morrido se tivesse totalmente drogado. Foi quando Goerge percebeu que ele estava muito doidão”.
No Brasil
Sgt. Peppers só chegou a Brasil em agosto e, segundo Marcelo Fróes, não teve um impacto imediato. “Teve impacto, mas não foi monstruoso não. As pessoas não se tocaram das mudanças, por que a jovem guarda ainda estava forte” explica. Uma das primeiras pessoas a absorver aquele som e usar a seu favor foi Gilberto Gil. “O Gil ouviu e ficou encantado no Strawberry Fields Forever e teve ideia de chamar um maestro (Rogério Duprat) para fazer o Domingo no Parque, que é a semente da Tropicália”.
Serviço:
Sgt. Peppers 50 anos -Edição de luxo
O quê: box em formato de luxo, com livro, CD, blusa e pôster
Quanto: R$ 189,90