*As fotos e os vídeos da noite de ontem são uma contribuição da jornalista Érika Neves. Peço perdão pela qualidade, são fotos e vídeos de celular.
O palco do Teatro RioMar virou sala de estar da família Veloso na noite desta quinta-feira, 11, em Fortaleza. Caetano apresentou ao lado dos três filhos a turnê Caetano Moreno Zeca Tom Veloso, que roda o País desde o ano passado. Pai e filhos encantaram uma plateia de ingressos esgotados e mostraram o entrosamento e a musicalidade que existe no sangue. Com um trabalho que mescla grandes sucessos de Caetano, composições dos filhos e uma excelente seleção do lado B do cantor e compositor, o show, de quase duas horas, foi leve como um encontro de domingo.
Em um cenário simples e sofisticado, os quatro já estavam posicionados quando as cortinas se abriram. Ao som de Alegria Alegria, a família deu boa noite à Capital. Zeca estava no piano, Tom e o pai ao violão e Moreno garantia o ritmo com o pandeiro. A plateia cantou junto. E, pela leveza com que a canção fluiu, não houve dúvidas de que seria uma linda noite. Pai e filhos estavam à vontade. O entrosamento era nítido. Eles dividiam o espaço igualmente, como se estivessem tocando na sala de casa.
O show é pautado pela emoção e bom humor. Caetano, visivelmente orgulhoso dos filhos, brinca e apresenta cada um deles. Conversa com o público e conta histórias sobre as canções. Logo no primeiro momento, na terceira ou quarta música, Zeca Veloso – que aparenta ser o mais tímido dos irmãos – solta a voz com Todo Homem. A música, lançada em dezembro, é composição é de Zeca, 25 anos, o estreante do grupo. O silêncio que caiu sobre o teatro para ouvir a poesia cantada com voz afiada foi de causar arrepios.
A luz e o cenário são um espetáculo à parte intercalando o frio e o quente, dia e noite, luz e sombra. Os irmãos trocam de lugar durante o espetáculo. Andam pelo o palco, dançam. Caetano permanece sempre central. Logo após a canção de Zeca, Caetano relembra o reduto familiar de Santo Amaro. É com Genipapo Absoluto que ele e Moreno visitam as raízes. Moreno, com uma voz tão parecida com a do pai que confundia o público, munido de um prato e algo metálico, mostra o gingado e o batuque de quem nasceu na Bahia. A canção é seguida por Um passo à frente, do próprio Moreno, primogênito de 44 anos. O filho mais velho de Caetano é pura energia. Revezando entre pandeiro, violão, violoncelo, pratos e até lixas, ele mostra descontração e talento. Descontração, essa também vista em Tom, o caçula, de apenas 20 anos. Zeca é mais quieto. Porém, não se apaga perto dos irmãos. Cada intervenção da afinada voz do filho do meio provoca as mais diversas sensações.
Antes de cantar Ofertório, canção de 1997 que Caetano compôs a pedido da irmã Mabel Veloso, para a missa em homenagem aos 90 anos da mãe Dona Canô, ele falou da religiosidade dos filhos para o público. “Eu não sou religioso. Mas, os meninos são. E muito. Tom e Zeca são cristãos. E Moreno é macumbeiro”. Ele explica a história de Ofertório e porque ela está no setlist da turnê. “É uma maneira de celebrar a religiosidade dos meus filhos e homenagear aquela que é a espinha dorsal deste projeto, dona Canô. Coloquei nessa canção tudo que ela diria ao Sagrado”. E, logo após, o quarteto entoa junto Reconvexo, um dos maiores sucessos de Caetano conhecido na voz da irmã, Bethânia.
Um outro momento surpreendente é o funk carioca de Caetano e Tom. A batida de Alexandrino, nova canção de Caetano, surpreendeu o público. Tom ainda levantou e arriscou uns passinhos. Ao cantar Trem das Cores, Caetano disse que a canção só entrou no repertório porque a maioria dos amigos e conhecidos dos filhos pediram. O show ainda passeia por A tua presença morena, Oração do Tempo, A Tua e Você me deu.
Ao chegar em Leãozinho, Moreno brincou que “Santo de casa não faz milagre” e que conhecia poucas canções do pai. Tom completou “Se sei cinco, são muitas”. Moreno ainda disse que não entendia porque teria que cantar a canção já que o próprio Caetano estava lá. “Mas, já que ele mandou”. A música foi interpretada lindamente por ele, ao lado do assobio marcante do pai.
Para o fim do show, o quarteto puxou o samba How beautiful could a being be, canção de Moreno que Caetano lançou em disco há 20 anos. Moreno e Caetano caíram no samba. Lógico que plateia clamou pelo bis. E ele veio com Canto do povo de um lugar, Um Tom, Deusa do amor.
Para fechar com a energia e a leveza da noite Tá escrito, do grupo Revelação, ganhou uma linda interpretação feita por pai e filhos. A plateia acompanhou com palmas e de pé. Caetano Moreno Zeca Tom Veloso é encantador. É família, é mistura, é ritmo e poesia. O público saiu extasiado por assistir um encontro de talento e música boa.