Foto: Daryan Dornelles/ Divulgação

Havia uma magia no ar no final daqueles loucos anos 1970. A chatice de uma ditadura militar que já estava cansada até dela mesma obrigava as pessoas a querer mais da vida. Se o governo dizia que nada era permitido, tinha uma turma que dizia o contrário. E muitos artistas captaram esse espírito, intencionalmente ou não. Entre esses artistas estavam Armandinho Macedo, Ary Dias, Gustavo Schroeter, Mú e Dadi Carvalho, cinco músicos jovens, mas experientes, que formaram o A Cor do Som

A história deles já é conhecida. Arregimentados como banda de apoio para a estreia solo de Moraes Moreira, pós-Novos Baianos, eles deram uma liga tão forte que ganharam vida própria. Assim como o som que aprenderam com o padrinho, os cinco não tinham pudores em misturar samba, choro, rock, progressivo, marchinhas carnavalescas ou qualquer som que viesse à mente na hora de compor. O resultado foi um caldo sonoro colorido e saboroso que resiste há 40 anos entre os sucessos da música brasileira.

Essa história vai ser contada neste domingo, 26, às 18 horas, no Cineteatro São Luiz. O show comemora o aniversário do álbum A Cor do Som, estreia do então quarteto instrumentou que fez sucesso no Festival de Jazz de Montreux e estourou pouco depois com o disco Frutificar (1979). Foi dele que saíram sucessos como Abri a Porta, Beleza Pura e Suingue menina. “Quando estouramos com Beleza Pura, era primeiro lugar em todo lugar. Eu ia pro motel com minha namorada e a música tocava no rádio”, brinca Armandinho destacando que nenhum sucesso da banda vai ser esquecido no show em Fortaleza. “É festa pra gente também. O show é relembrar o que a gente fez, por que é o que está na memória das pessoas, e apresentar alguma coisa nova. Por que a gente está lançando disco e tem algumas músicas inéditas”.

Entre as três inéditas do disco lançado no fim de 2017, uma certa de entrar no show é Somos da Cor. Outras duas faixas foram lançadas em projetos individuais ou por parceiros. Mas o grande chamariz do álbum comemorativo são as gravações e os convidados, como Lulu Santos. “A gente estava no estúdio do Ricardo Feghali (Roupa Nova) e lá estava gravando o Lulu Santos, que foi meu vizinho em 1977. É um amigo com eu já tenho uma relação antes de fazer sucesso. Nós convidamos e ele escolheu a música (Suingue Menina)”, lembra Armandinho que logo lembrou de Gilberto Gil também para refazer o Abri a Porta. “A gente queria uma inédita com ele, mas a Flora (Gil, esposa do músico) preferiu que não fosse inédita por que ele estava doentinho”.

Os convites foram seguindo com Samuel Rosa (“que imediatamente disse que já cantou muito o Zanzibar no início da carreira”), Djavan (“o Dadi estava falando com ele sobre o disco e ele se convidou”), Moska (“está sempre ligado com o Mú e disse que queria participar”) e outros. “Todas essas pessoas tiveram uma ligação com o A Cor do Som. A gente tinha a maioria do disco, não tinha essas regravações todas. A gente estava fazendo uma demo com coisas novas. Mas os convidados foram sugerindo e foi mudando”, comenta Armandinho sem ter nenhuma crise entre o passado e o presente.

A magia dos anos 1970 já não é a mesma no País, mas os músicos celebram o fato de estarem juntos – com a formação original – 40 anos depois. “É uma das únicas bandas onde a gente é muito amigo. O cara paga pra gente se divertir. Todos têm muito compromissos, mas, quando junta, é uma farra”, comenta o percussionista Ary Dias destacando que é a compreensão, o respeito entre eles que mantém o casamento firma por tantos anos. Armandinho faz coro com o parceiro e fica feliz de saber que o público corresponde nesse encontro. “É interessante por que, agora, tem o pessoal da época e os filhos. É muito bacana isso, fica uma história, representou alguma coisa. E o bacana da Cor do Som é que nós tivemos a formação original e eu fiquei por cinco anos. Houve um conflito, claro, com a minha saída, mas permanecemos amigos e sempre foi uma amizade muito bacana. Quando a gente volta, em 1995, foi como se nada tivesse acontecido por que a amizade estava ali fluindo”.

Serviço:
A Cor do Som – 40 anos
Quando: domingo, 26, às 18 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 – Centro)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). À venda no site Tudus e no local
Telefone: 3252 4138

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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