Amigo de fé


Nesta quinta-feira, 14, chegou aos cinemas a cinebiografia de Erasmo Carlos. Batizado com o nome da autobiografia Minha Fama de Mau (2009), o filme traz Chay Suede no papel do Tremendão, Gabriel Leone como Roberto Carlos e Malu Rodrigues como Wanderléa. O foco está no nascimento da parceria que fez fama na Jovem Guarda e cruzou décadas como uma das mais importantes da MPB. A trilha sonora já está disponível em streaming e traz os atores cantando – e não fazem muito feio não. Assim como o livro, o filme dirigido por Lui Farias deve ser cuidadoso com a imagem de Erasmo e deixar de lado polêmicas mais pesadas. O suicídio da ex-esposa Narinha e problemas com álcool, por exemplo, devem ficar de fora desta bela homenagem ao verdadeiro rei.

Minha Fama de Mau é também uma forma inteligente e atravessada de contar a história que Roberto não quer contar sobre si, embora ela já seja de “domínio público” e tenha sido bem detalhada na corajosa biografia – hoje censurada – escrita por Paulo César de Araújo. Ou seja, se não podemos fazer a cinebiografia, a biografia ou qualquer coisa com a memória de Roberto Carlos, façamos com sua cara metade. O fato é que a Jovem Guarda foi só o ensaio do que a dupla de compositores seria capaz de fazer nos anos seguintes. Quando eles se reencontram pós-ieieiê, é que se agiganta o cantor Roberto Carlos e o repertório da dupla que saiu dos moldes firmes daquele “roquezinho antigo” para ganhar ares adultos, tempero black, peso sonoro como quase nunca antes.

O fato é que, voltando à vida de Erasmo, ele nunca foi tão mau quanto a música tentou dizer e seus exageros com sexo, drogas e rock’n’roll (até onde se sabe) não passam de exigências para o estilo de vida que ele escolheu. Curiosamente, a discografia solo prova também que ele era o tempero, a pimenta da parceria que nos rendeu maravilhas sempre rejuvenescidas como A Montanha, O Portão, Vista a Roupa Meu Bem, Grilos, É Preciso Dar um Jeito meu amigo, Ciça Cecília e tantas outras. E hoje, aos 77 anos, Erasmo Carlos segue em busca de novos parceiros, lançando bons discos e podendo bater no peito com orgulho por ser o tremendão.

Caderno de viagens


19 anos depois de estrear num palco da escola, a paulista Manu Saggioro estreia com o disco Clarões. Produzido por Ceumar, o álbum mistura composições próprias com nomes como Déa Trancoso, Tetê Espíndola e Levi Ramiro. A julgar pelos envolvidos, fica claro que a ideia da paulista de Juá não era apostar nas fórmulas mais fáceis do mercado. Instrumentações acústicas e ritmos variados emolduram uma voz ainda crua, pouco experiente, mas com seu potencial. E há personalidade e vontade de trilhar um caminho próprio, o que sempre deve ser valorizado. O fox Identidade é um destaque, assim como a delicada Satélite. Ambas são de Manu.

Com os amigos


Professor e músico cearense, Wagner Castro volta a lançar disco 18 anos depois de Pão. Trabalho independente, Convida reúne 13 faixas com a participação de vozes e instrumentistas das mais diferentes vertentes. Chambinho do Acordeom, Alódia Guedes e Simone Guimarães são alguns dos presentes no álbum que reúne 12 composições autorias, em sua maioria, inéditas. Se Nayra Costa fica contida no registro grave de Frágil, Aparecida Silvino acerta o tom em Outro Sentimento. E Di Ferreira divide com Fagner duas versões de Antes Só. Em Cartas de Amor, é Cainã Cavalcante que guia os violões para Amelinha. No mesmo intimismo, em Bela e Fera, Lu D’Sousa emoldura a voz de Marcos Lessa com violões e percussão. Wagner Castro ainda não agendou o lançamento do álbum.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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