Rafael de Castro e Marquinhos Ribeiro, os donos da Gold Sounds (Fotos: Mateus Dantas/ O POVO)

Quem viveu os anos 1980 e 90 em busca de música deve lembrar das muitas lojas de discos que existiam em Fortaleza e das muitas capas coloridas expostas nas gôndolas da Aki Discos, Tok Discos, Francinet, Invasor, Gabriela, Pocket Music, Music Store, Empire Records e várias outras. Muitos desses estabelecimentos especializados competiam com lojas de departamentos, mas ganhavam a simpatia dos compradores pela proximidade, pelas indicações e pelos encontros com outros colecionadores – o que sempre rendia boas conversas.
O que aconteceu daí em diante foi uma sucessão de presságios do apocalipse. Os LPs perderam a preferência do publico com a chegada dos CDs, que perderam seu espaço para o MP3 e para a epidemia de discos piratas. Até este mercado ilegal perdeu espaço com a popularização do streaming. A cada nova mídia, um novo “isso ou aquilo” vai acabar. De verdade, nada se acabou, o LP e o K7 voltaram a circular, os CDs continuam sendo vendidos, mesmo em quantidades bem menores, e o streaming segue na preferência de quem prefere um consumo mais imediato. Enquanto muitas megastores suam para sobreviver, pequenas lojas de discos físicos seguem atendendo os desejos de um nicho específico de compradores.

O segredo dessas pequenas lojas está na proximidade com o comprador, que, mais que um produto, pode receber uma consultoria musical. É o caso da Gold Sounds, aberta em Fortaleza há três semanas. O acervo de LPs, CDs e equipamentos de som é selecionado por dois apaixonados pelo assunto, Marquinhos Ribeiro, um dos DJs mais requisitados da noite local, e Rafael de Castro, consultor empresarial. Há tempos eles desejavam um espaço onde pudessem vender discos como antigamente, mas o plano era pra daqui há cerca dois anos. Mas uma oportunidade nasceu quando vagou um espaço ao lado do bar Vilarejo 84, onde Marquinhos já tocava algumas noites.

“Uma coisa que deixou feliz foi como as pessoas responderam. Loja assim é uma coisa que cada vez menos rola. Fortaleza ainda tem várias lojas legais, mas ficou feliz de como receberam”, comenta Marquinhos que já trabalhou em lojas como Desafinado, Verso, InMusic e, “informalmente”, na Planet CDs – uma das poucas que ainda existem na Galeria Pedro Jorge. “Eu sentia falta desse ambiente de balcão, onde rola muita discussão. Não deixa de ser um espaço cultural, assim como as livrarias. A gente quer apresentar uma música pro cliente sair com o disco, que ele saia feliz com o equipamento que está levando”, acrescenta.

Há algo saudosista em abrir uma loja discos em 2019, mas Marquinhos também vê um negócio promissor na Gold Sounds. “Se tu fores pegar os números das vendas de discos é uma coisa absurda. Ano passado, as vendas de CD e vinil foram maiores que ITunes. Comercialmente falando, eu sei que é uma coisa promissora, pelo menos no sentido sustentável. O mercado de discos tem crescido muito e uma coisa que está correndo por fora é que o CD está voltando a vender, K7 também e vinil nem se fala”, avalia reconhecendo que trata-se de um mercado de nicho, que não vai ter mais as proporções de 40 anos atrás.

Segundo o relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), divulgado no ano passado, de 2016 para 2017, as receitas geradas no setor de música gravada cresceram 8,1%, tendo o faturamento global atingido US$ 17,3 bilhões. No Brasil, o crescimento foi de 17,9% dentro do mesmo período. O Brasil aparece em penúltimo entre os 10 maiores mercados de música de 2017, a melhor taxa de crescimento após mais de uma década em queda. Considerando apenas as vendas físicas e digitais, esta segunda representa 92% do faturamento. “Somos um mercado cada vez mais digital, mas distribuído em outros tipos de faturamento com música gravada, como vendas físicas, direitos de execução pública, etc.”, aponta Paulo Rosa, presidente da Pro-Música, afiliada nacional da IFPI.

“Ouço Spotify direto e quero fazer o Spotify da loja. Acho streaming maravilhoso, mas tem pessoas que gostam da peça, da imagem, do encarte. Você pega um disco da Elenco (gravadora que fez história nos anos 1960 lançando clássicos da bossa nova) e aquilo é uma peça de design revolucionária. Você imagina a quantidade de história que vem num disco desses”, destaca Marquinhos que quer apostar nesse público. Além de indicar discos e equipamentos de acordo com o gosto e a necessidade de cada cliente, ele pretende ampliar o negócio promovendo eventos como convidar artistas para comentar seus discos para uma pequena plateia. “Comercialmente, existe público pra isso e eu tinha essa necessidade de voltar a conviver nesse espaço. Disco é um produto caro, mas estamos conseguindo comprar bem e vender bem. O CD também está começando a ficar difícil. Se der uma olhadinha no Mercado Livre, já não é mais tão barato. É sinal que o mercado de CD está aquecendo também, mas ainda é de nicho. A gente não está com um mercado morto. A gente está com um mercado que precisa ser trabalhado”.

Serviço:
Gold Sounds
Onde: Rua Clube Iracema, 84
Instagram: @goldsoundsstore
Facebook: GoldSoundsBrasil
Funcionamento: se segunda a quinta, das 12 h às 8 horas; Sexta e sábado, das 12h às 23 horas

Confira ponto de vista de Marcelo Fróes sobre o mercado de discos no Brasil

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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