A Marimbanda: Luizinho Duarte, Miqueias dos Santos, Heriberto Porto e Thiago Almeida

Na história da música instrumental brasileira, muitos grupos deixaram marcas importantes em diferentes épocas e muitos dos seus discos viraram objeto de culto entre colecionadores. Do efêmero Brazilian Octopus ao longevo Zimbo Trio, passando pelo valente Quarteto Novo e pelo hilário Velhinhos Transviados (que tinha à frente o guitarrista cearense Zé Menezes), a pluralidade de estilos é grande, bem como a coragem de se manter fazendo um som que tem pouca repercussão midiática.

Por isso, uma formação instrumental que acumula mais de 20 anos de história, por si, já é merecedora de palmas. Se essa formação se dedicar a esse ofício defendendo a qualidade e valorizando os muitos ritmos brasileiros, aí toda e qualquer reverência é pouca. E é aí que entra a Marimbanda, quarteto cearense formado em 1999 e que lança hoje, 17, no Theatro José de Alencar, o terceiro disco de uma caminhada longa, com seus percalços naturais, e cheia de encontros frutíferos. Entre eles, com Adelson Viana, convidado especial desta noite.

Não por acaso, o disco chama-se Caminhar. “Eu insisti que esse repertório fosse gravado por que ele é muito forte. São músicas que não poderiam deixar de ser registradas”, adianta o flautista Heriberto Porto. Além dele, a Marimbanda conta com o piano de Thiago Almeida, o baixo de Miqueias dos Santos e a bateria de Luizinho Duarte – todos com um currículo extenso o suficiente pra dar uma volta na terra.

Muito dessa experiência está impressa em Caminhar. Das 14 faixas, 13 são de Luizinho Duarte – a ritmada Se vira aí em parceria com Carlinhos Ferreira, que completou o tema depois de um bloqueio criativo do baterista – e a outra é de Thiago Almeida em homenagem ao próprio Luizinho. Veterano das baquetas, que já acompanhou estrelas como Leila Pinheiro, Tim Maia, Elza Soares e Maria Bethânia, Luizinho ganhou do amigo a doce Duarteana, que conta com a participação do flautista Carlos Malta. “Ele (Malta) veio a Fortaleza pra gente fazer um show e chamamos pro estúdio. Gravamos três músicas, mas só uma foi pro disco e as outras foram pro Youtube”, conta Heriberto.

Além de Malta, Caminhar conta com as participações de Ricardo Herz e Alisson Pereira. O primeiro, paulista, reconhecido como um reinventor do violino, recorta a melodia Eu Quero é Baiãozar com seu instrumento. O segundo, cearense, professor de conservatórios na França, entra com seu clarinete em Joaquim no Choro, um belíssimo jogo de ritmo, com um arranjo super dançante. O choro, assim como Seus Olhos, é uma homenagem de Luizinho Duarte ao filho Joaquim. Por falar em homenagem, Que Conversa é essa? é dedicada ao mestre Zé Menezes.

As demais faixas de Caminhar passeiam por cenários sonoros variados, como frevo, samba, jazz e balada. Em tudo, uma dose desmedida de brasilidade cheia de orgulho.  Com planos de levar esse repertório para o exterior, Heriberto sabe que há boa aceitação por onde chegar. “A música instrumental é muito viva na Bélgica, Holanda… E essa pegada da música brasileira com um tempero cearense só a gente tem. Os cariocas tocam muito bem, mas a gente tem uma coisa Hermeto Pascoal, um sangue nos olhos, uma alegria que é muito nossa”, comenta.

O repertório dessa noite dá destaque a Caminhar, mas não deixa de lado os discos anteriores – Marimbanda (2001) e Tente Descobrir (2005). Nesses 20 anos, a Marimbanda (nome tirado de uma música do baixista Adriano Giffoni) já contou com músicos como Ítalo Almeida e Júnior Primata. A atual formação já conta 10 anos, data que mereceu uma composição de Thiago Almeida ainda inédita. Nessa caminhada, eles participaram de festivais no Brasil e no exterior, gravaram com os Irmãos Aniceto e agora, no meio desse ano, gravam com a instrumentista paulista Lea Freire.

Heriberto avisa também que eles já têm repertório pra fazer mais um ou dois discos, e não descartam um trabalho só com músicas de Thiago Almeida. “O Miqueias também compõe. Eu nem ouso mostrar minhas composições por conta do nível das deles. Prefiro ficar mais na produção”, brinca o músico comentando que a Marimbanda sempre chamou atenção do público pelo cuidado com a música. E esse cuidado não é diferente em Caminhar. “As gravações todas são ao vivo, não tem overdub. Algumas faixas são praticamente a primeira tocada. Quem vem de fora se impressiona, por que da primeira já ficava muito bonito. A gente fazia uma segunda gravação, mas acabava ficando a primeira mesmo”.

Serviço:
Lançamento do disco Caminhar
Quando: hoje, 17, às 19h30min
Onde: Theatro José de Alencar (r. Liberato Barroso, 525 – Centro)
Gratuito
Telefone: 3101 2566

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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