Tony Bellotto, Branco Mello e Sérgio Britto, os “novos” Titãs

Quando, em 1997, os Titãs decidiram gravar uma participação no projeto Acústico MTV tudo cheirava a novidade. O programa que convidava artistas a desplugarem seus instrumentos ainda buscava um formato no Brasil e encontrou nos paulistas a medida exata. A banda já experiente, repertório já solidificado e os fãs apaixonados. A eles, que eram sete, se somaram uma orquestra de cordas e sopros, músicos de apoio e muitos convidados – incluindo Arnaldo Antunes, já um ex-Titã da formação clássica.

O sucesso foi tão estrondoso, com quase dois milhões de cópias vendidas (a maior cifra deles e do projeto Acústico MTV), que no ano seguinte eles lançaram um Volume 2, que estourou com uma versão de É Preciso Saber Viver, mas já pareceu desnecessário. Ainda assim, passados 22 anos, eles decidiram comemorar o sucesso do projeto de 1997 com um terceiro acústico.

A primeira das três partes de Titãs Trio Acústico já está disponível nas plataformas de streaming com oito faixas vestidas apenas de baixo, piano, violão e voz. O formato surpreende para uma banda de rock que já abrigou nove músicos e fez fama com um som potente, performances explosivas, discurso incendiário e propostas vanguardistas. Quase 40 anos depois, eles parecem ainda querer esta fama, mas já não dá mais.

O grande entrave deste Titãs Trio Acústico está, justamente, na história que a banda carrega. Depois de tantas perdas e reinvenções, ficou difícil encontrar um caminho seguro e promissor para a banda. As canções seguram o peso da história, a começar por Sonífera Ilha, lá do início, que segue divertida na voz e Branco e ganhou um clipe super bacana com participações de Fernanda Montenegro, Rita Lee, Fábio Assumpção e vários outros. Tem também a dilacerante Isso, composição de Tony que estreia aqui como cantor. Por que eu sei que é amor ganhou um acento soul que também é bacana.

Nada é ruim, tudo tem qualidade. Mas é preciso entender que os Titãs já não os mesmos e este terceiro acústico vai sofrer muitas comparações com o primeiro, o que é uma covardia. Há também uma preocupação em mostrar o quanto os Titãs estão vivos e o quanto eles se preocuparam em reconstruir as canções e para que elas soassem rejuvenescidas. E talvez aí esteja o maior problema deste novo projeto. Antes se eles deixassem todas as preocupações de lado e deixassem as canções falarem por si.

Nem sempre se pode ser deus

Desde 1984 até hoje, os Titãs já passaram por muita coisa, precisaram se adaptar a diversas transformações, enfrentaram crises (internas e nacionais), refizeram o próprio som e se tornaram um clássico do rock nacional. Disco a disco, segue um mapa dessa história de quedas e levantadas.

– Titãs (1984)
Antes do primeiro disco, alguns nomes haviam passado pelos Titãs. O baterista André Jung entrou para o Ira! e Ciro Pessoa, após uma tentativa de dar as cartas na banda, foi convidado a sair e formou o Cabine C, que não foi muito longe. Ele é co-autor de Sonífera Ilha, Toda Cor e outras.

– Titanomaquia (1993)
Depois de seis discos e muito barulho, Arnaldo Antunes sai (sem conflitos) para se dedicar a uma muito promissora carreira solo. O primeiro disco sem o multiartista é o pesado Titanomaquia, que teve produção de Jack Endino, reconhecido por ter trabalhado com o Nirvana.

– A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (2001)
Depois do mega sucesso da turnê Acústico MTV, os Titãs passam um tempo guardando as inéditas, que são bem recebidas nesse disco. No entanto, ele é marcado pela perda de do guitarrista Marcelo Frommer, morto num acidente de trânsito. Embora composta antes, o sucesso de Epitáfio acaba refletindo o momento.

– Como Estão Vocês? (2003)
Juntando a morte de Frommer, a perda da amiga Cássia Eller e a pressão do estouro de Epitáfio, é Nando Reis quem decide sair e seguir solo. A saída foi no meio da turnê, o que não caiu bem. O quinteto remanescente acaba lançando um disco pálido. Com esforço, Eu não sou um bom lugar e Enquanto houver sol tocam em algumas rádios.

– Cabeça Dinossauro ao Vivo (2012)
O maior clássicos dos Titãs é celebrado sem o baterista Charles Gavin, que decide se dedicar aos seus projetos de pesquisa musical – além de relançar álbuns clássicos ele apresenta o programa O Som do Vinil. Agora quarteto, a banda renasce com o vigoroso álbum Nheengatu, que lembra Titanomaquia.

– Doze Flores Amarelas (2018)
Nem os elogios a Nheengatu fazem a nova fase dos Titãs durar. Paulo Miklos pede dispensa e engata carreira solo. Com fôlego comprometido, a banda lança uma ópera-rock que chama pouca atenção pela dificuldade de circular com o elenco. Ao mesmo tempo, eles tocam um show de sucessos e uma turnê acústica em formato trio.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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