One man band

Obs.: por motivos técnicos, os vídeos previstos para essa postagem não puderam ser incluídos. No entanto, eles podem ser acessados pelos links na matéria. Em breve, voltamos ao mais normal possível

Há alguns anos tenho recebido de amigos e admiradores os mais diversos vídeos de gente tocando guitarra ou violão. Na maioria das vezes pedem meu aval por eu tocar esses dois instrumentos. As categorias são as mais variadas possíveis, vão desde os clássicos vídeos do filho, neto ou filho de um amigo, crianças fenômenos de 4 a 5 anos da Coréia ou de alguma aldeia isolada nas estepes e por aí vai.

Em tempos de isolamento, em que todos têm as redes sociais e o “zapzap” como companheiros mais dedicados, isso aumentou e muito. Já vi de tudo. Versão de  Tico tico no fubá tocada por um casal juntos no mesmo violão; gente tocando com o pé, dentes, arco de violino, baqueta de bateria; “one man band” (alguém tocando percussão com os pés, baixo com uma mão e guitarra com a outra); saxofonista e cantor desafinando e achando que tá arrasando.

A exposição a canais de hospedagem de vídeos e os apps de troca de mensagens disseminaram isso ao extremo. Montagens de bandas de heavy metal tocando o último sucesso do sertanejo ou do funk editadas para parecerem reais  também são outra modalidade em alta. Gente ensinando errado a tocar qualquer solo de guitarra ou músicas recentes existe em abundância e convivendo lado a lado com canais oficiais de grandes mestres que compartilham seus conhecimentos e tem milhões de seguidores. É um território sem lei.

O advento de programas de TV de novos talentos também virou febre mundial nos últimos anos, projetando gente que vira estrela na mesma velocidade em que volta ao anonimato, e contribui com a ideia de que todos têm um talento que deve ser mostrado ao mundo.

Virou meio de vida pra alguns fazer qualquer coisa no YouTube, principalmente se o contexto for engraçadinho ou até meio bizarro. Exemplos existem aos milhares, estimulando jovens a tentarem qualquer coisa pra “se dar bem”…

Claro que nesse oceano de vídeos e canais você encontra muita coisa séria e relevante. No quesito guitarra, os canais de Rick Beato e Tim Pearce nos EUA, e do Nelson Faria aqui no Brasil são um bons exemplos de que garimpando você pode achar muita coisa boa. No quesito shred guitar (um estilo focado no virtuosismo e que teve no sueco Yngwie Malmsteen seu maior expoente) a coisa já atingiu limites olímpicos com músicos tão velozes que já não se escuta a melodia, mas sim uma rajada de notas em sucessão de legatos (técnica de ligaduras).

Quem gosta de erudito pode seguir sem medo os canais All Of Bach (Netherlands Bach Society), AllClassical com a série Now Hear This, e o de Richard Atkinson com análise de obras famosas de Mozart, Beethoven e Bach.

No Jazz temos o canal maravilhoso Jazz at Lincoln Center com direção musical do trumpetista Winton Marsalis, e o incrível Jazz Duets do saxofonista inglês Nick Homes que tem uma ótima didática e senso de humor.

Voltando ao amigos e fãs que me mandam os vídeos ou até cometem uma nova mania (mostrar uma música ou vídeo quando estou tocando em algum barzinho, geralmente no meio da música…), agradeço a confiança em ter meu comentário. Apesar de que, muitas vezes, escutam o que não queriam pois não perco a minha sinceridade e senso crítico por nada nesse mundo.

Mimi Rocha é músico e produtor. Ele escreve nesse espaço quinzenalmente

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles