E foi em 30 de novembro de 1980, há 40 anos, que nos deixou uma das grandes preciosidades da Música Popular Brasileira. Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, mestre do samba, compositor de clássicos como O mundo é um moinho e As rosas não falam.

A história do mangueirense nascido em 11 de outubro de 1908 diz muito sobre um país que a gente sonha. Ele trabalhou como pedreiro, guardador de carros e outras profissões a quem a dita elite mal daria bom dia. A propósito, dia a lenda que foi trabalhando em obras que ele ganhou o famoso apelido. Acostumado a usar um chapéu coco para proteger a cabeça, os companheiros de lida diziam que o tal objeto era uma “cartola”.

Fato é que Cartola é um tipo de ser que precisa existir. Foi assim mesmo, se defendendo em subempregos numa época em que eles eram ainda menos respeitados, que o carioca encontrou na música um hobbie que lhe alimentava a alma. Tirando a sensibilidade de algum lugar mágico, a mesma fonte acessada por outros grandes gênios, ele foi construindo uma obra que só foi encontrar registro quando ele já tinha mais de 60 anos. O reconhecimento foi imediato e muitas das grandes estrelas da MPB deram voz às suas canções. De Elizete Cardoso a Cazuza, de Lobão a Leny Andrade, de Zizi Possi a Zeca Pagodinho.

Mas a obra de Cartola vai além das composições. Ele foi um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, uma daquelas escolas que tornou-se um símbolo do Rio de Janeiro. Cartola, com sua simplicidade, também cruzou estilos e encontrou admiradores no jazz, no erudito e no popular. Longe de ser um personagem midiático ou mesmo sabendo aproveitar as oportunidades que a vida lhe deu, ele fez a vida a partir do incentivo de amigos que o incentivavam a registrar suas canções. E era só isso mesmo que ele queria, fazer canções.

Segundo levantamento feito pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), as duas músicas mais gravadas de Cartola são As rosas não falam e O mundo é um moinho, o que não é de se estranhar. A primeira, inclusive, perdeu de ser gravada por Roberto Carlos que não gostou do tema, uma vez que, segundo o próprio Rei, ele falaria sim com suas rosas. Se Roberto não quis, não falta quem queira e o Ecad fez também o levantamento dos intérpretes mais frequentes da obra do sambista, segundo os registros do seu banco de dados. Os cinco primeiros são:

1. Elton Medeiros
2. Ney Matogrosso (que dedicou um disco de estúdio e outro ao vivo à obra de Cartola)
3. Nelson Sargento
4. Teresa Cristina
5. Márcia

Quanto às músicas mais tocadas segundo o Ecad, o Top10 é formado por:
1. As rosas não falam (Cartola)
2. O mundo é um moinho (Cartola)
3. O sol nascerá (Elton Medeiros/ Cartola)
4. Alvorada (Hermínio Bello de Carvalho/ Cartola/ Carlos Cachaça)
5. Tive sim (Cartola)
6. Corra e olhe o céu (Dalmo Castello/ Cartola)
7. Sala de recepção (Cartola)
8. Acontece (Cartola)
9. Ao amanhecer (Cartola)
10. Disfarça e chora (Dalmo Castello/ Cartola)

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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