Foto: João Arraes

Em 2012, quando Silva lançou Claridão, ele cantou sobre assistir o fim do mundo da sacada. Acho que em nenhum momento passou pela cabeça do cantor capixaba que anos depois seria exatamente assim que nos sentiríamos ao enfrentar uma doença desconhecida que nos trancou em casa com medos e incertezas. De lá para cá, muita coisa mudou na música de Silva. “Estou envelhecendo, acho que parei a busca pela novidade. O mais novo, o mais legal. Hoje o atemporal me atrai muito mais”, explica o também compositor por telefone ao Discografia em uma conversa sobre Cinco, seu mais novo trabalho.

Com 14 faixas – que passeiam entre o jazz, samba e MPB – Cinco é o quinto álbum de inéditas de Silva e pode ser considerado a melhor mistura de sua carreira. Eclético, o disco foi produzido e mixado pelo próprio cantor, de forma analógica, em parceria com o irmão, Lucas. Concebido durante o período mais rígido de isolamento social, Cinco foi uma maneira de não deixar a esperança morrer.

Cinco não é exatamente um fruto da pandemia. As composições já estavam prontas e acabamos adiantando o lançamento por conta de tudo que estávamos vivendo. Ao mesmo que era uma forma de escape, foi muito difícil cantor sobre o amor, felicidade e alegria no meio de tantas perdas. Mas eu pensava que não podia deixar a esperança morrer. Cinco é isso, uma forma de manter a esperança viva”.

Questionado sobre a semelhança do trabalho com Brasileiro, álbum lançado em 2018, Silva explica que os discos são irmãos. “Apesar de diferentes, eles seguem uma linha. Não foi proposital, foi natural. É uma vertente musical que eu encontrei e pretendo explorar mais”, explica.

Assim como Brasileiro, Cinco também tem participações especiais. “Escolhi três grandes nomes que são muito importantes para mim”, conta Silva. Anitta, que esteve presente no hit Fica tudo bem do trabalhando anterior, volta para o pop levinho de Facinho. Já em Soprou, Silva divide os vocais com a voz grave de Criolo. João Donato dá o tom em Quem disse e nos apresenta uma baladinha apaixonante. “A Anitta é uma parceira sem igual. Falei que a música combinava com ela e ela topou na hora. É muito bom trabalhar com a Anitta. Já com o Criolo foi muito legal porque ele se ofereceu pra escrever a segunda parte da música, eu amei. E o João Donato foi meu presente. O cara é icônico, é do mundo todo. Tenho muito orgulho”, comenta.

Entre as 14 faixas, Pausa para solidão não saiu dos meus fones de ouvidos desde o lançamento. A música me lembrou um pouco o Silva do começo. Letra e melodia se encaixaram perfeitamente. Já Má Situação – que conta com cuíca, cavaquinho e violão de Pretinho da Serrinha – é um bom samba de roda sobre amores que vão. Em Passou Passou a melodia me lembrou um pouco o som do cearense Daniel Groove e suas baladas estilos anos 1960.

Cinco não tem data para subir aos palcos. “Não temos como prever nada na atual situação, mas sinto muita falta do meu público”, reforça Silva. A troca entre Silva e o público durante a pandemia tem surpreendido o cantor. “Eu fiquei muito feliz de ter ajudado as pessoas em um momento tão difícil por meio da música. Quando vejo meu nome na lista dos mais ouvidos de alguém fico muito surpreso e orgulhoso. Foi um ano muito difícil, passei por todos os medos e inseguranças também”. Cinco já está disponível em todas as plataformas de streaming. “Cinco sou eu. Cinco é a mãe Oxum. É um trabalho que muito me orgulha”, finaliza o cantor.

About the Author

Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

View All Articles