Brandão é um poeta/letrista fabuloso, que figura sem esforço na minha seleção brasileira de poetas compositores de todos os tempos, junto a nomes como Paulo César Pinheiro, Márcio Borges, Fausto Nilo, Aldir Blanc e Abel Silva.
Ele pode não ser tão reconhecido quanto os nomes citados acima, mas sua obra é imensa e fala por si.
Canções como Beco dos Baleiros, Pé de Sonhos e Beleza são obras-primas incontestáveis, dentre outras tantas belezas de seu legado.
Um craque!

Zeca Baleiro, cantor e compositor maranhense

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Texto de Joana Soares Nóbrega Brandão, filha do compositor, no Instagram

Meu pai gostava de ter seus segredos. Como eu. Os soltava ao longo de anos e anos. Nunca completamente. Música muito antiga, do tempo em que tinha nascido.
Disse uma vez que morou em São Paulo, em Brasília e ia ao Rio de Janeiro. Disse que Gonzaguinha tinha cheiro de cravo-da-índia.
E disse: “Uma vez encontrei o João do Vale aqui em Fortaleza e saímos de bar em bar bebendo cachaça e falando de tudo”.
Falava que Tom Zé tinha uma escola de música onde se lia na plaquinha: “Sofistibalacobaco: muito som e pouco papo”.
Contava as anedotas e haicais do Jayme Ovalle cearense, seu amigo, o inoxidável Augusto Pontes: “A união se faz à força”.
Algumas das maiores vozes do país cantaram músicas de meu pai. Nara Leão gravou uma composição sua. Meu pai sempre foi um homem oculto. Disse minha tia que ganhou um campeonato de Matemática e levou o prêmio para casa escondido dentro da camisa para que ninguém soubesse.
Fez canções com cavalos, mulheres bonitas. E ilustrações para capas de discos e festivais de música.
Fez um livro de poesias, entre elas algumas curiosíssimas, em uma língua indecifrável e, aparentemente, com gramática própria.
Meu pai era um mundo. Conversávamos sobre violões, arte e enciclopédias. Assistíamos a todo tipo de filme juntos. Uma vez lhe perguntei: “Não há nada que não interesse ao senhor?”. Ele, pela primeira vez na vida, tardou uns vinte segundos pausado, pensando para responder simplesmente: “Não”.
Meu pai, um nativo do signo de peixes, voltou para o mar das emoções onde nasceu. Na noite passada. Roubei uma rosa branca de uma coroa de flores e a aconcheguei entre suas mãos como último gesto. De meu mais profundo sentimento.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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