Falar das composições de Guinga e da interpretação de Mônica Salmaso é falar do que há de mais precioso da música brasileira. Mesmo quando soam acessíveis, populares e divertidos, eles são sofisticados e atentos a referências musicais de alto valor. Não à toa, construíram uma respeitosa carreira que chama atenção pelo mundo. E, embora não seja de todo justo dizer que são ignorados no Brasil, estão longe de querer disputar espaço com o que se chama aqui de “sucesso”.

Mas, a despeito dessa introdução, um encontro deste violonista com essa cantora está sendo lançado pela Biscoito Fino. Japan Tour 2019 tem título autoexplicativo e traz seis faixas registradas ao vivo no Nerima Culture Center, em 10 de abril daquele ano. As outras seis faixas foram registradas em estúdio – dois dias depois, também na terra do sol nascente – e, ainda em 2019, o álbum foi lançado com exclusividade no Japão. Dois anos depois, a gravadora carioca nos presenteia com o encontro que contou ainda com as presenças do saxofonista e flautista Teco Cardoso e do clarinetista Nailor Proveta. Que quarteto!

O repertório passeia pela obra de Guinga e seus parceiros, como Aldir Blanc, Celso Viáfora e Paulo César Pinheiro. “A música do compositor Guinga é uma das obras mais importantes da história da música brasileira. Nela mora a profunda alma da cultura do Brasil, capaz de nos emocionar e de ter criado uma nova árvore na composição de onde muitos novos compositores encontraram uma fonte, um caminho e uma identidade”, comenta Mônica Salmaso em material enviado à imprensa.

De canções mais introspectivas, como Odalisca e Tangará, a dribles mais ritmados, como Chá de Panela e Baião de Lacan, Japan Tour 2019, é mais uma merecida homenagem a um dos compositores mais inventivos da música brasileira. E também um cantor competente, com sua voz rouca com inflexões tanto dramáticas como meio cômicas.

“Chegar com este trabalho no Japão, mesmo de pé quebrado, muletas e cadeira de rodas (fato que aconteceu!), foi uma aventura e um sonho incrível que pudemos realizar. Durante esta turnê, nós quatro nos emocionamos profundamente. Temos, em relação ao Japão, uma enorme admiração. Para nós, é mágico atravessar a distância geográfica que nos separa e muitas diferenças culturais. Somos encantados com a seriedade, o respeito, o orgulho do trabalho, a organização, a poesia e a alegria com que nos recebem”, segue Salmaso sobre o álbum já disponível nas plataformas e previsto pra ser lançado em CD.

Só para constar, Mônica Salmaso já havia dedicado um álbum inteiro às canções de Guinga em parceria com Paulo César Pinheiro, incluindo a impecável Bolero de Satã. Corpo de Baile, de 2014, rendeu ainda um espetáculo cênico que foi apresentado em Fortaleza, no Cineteatro São Luiz. Ao lado deste disco disco, coloque o sempre referencial Catavento e Girassol, de Leila Pinheiro. De 1996, o tributo reuniu canções de Guinga com Aldir Blanc e, além de abrir mais olhos para a obra deste ex-dentista de 71 anos, é irretocável do começo ao fim.

Confira as faixas de Japan Tour 2019:
1. Tangará (Guinga) – gravada em estúdio
2. Sete estrelas (Guinga e Aldir Blanc) – gravada em estúdio
3. Contenda (Guinga e Thiago Amud) – gravada ao vivo
4. Odalisca (Guinga e Aldir Blanc) – gravada em estúdio
5. Di menor (Guinga e Celso Viáfora) – gravada ao vivo
6. Passarinheira (Guinga e Paulo César Pinheiro) – gravada em estúdio
7. Esconjuros (Guinga e Aldir Blanc, 1991) – gravada em estúdio
8. Simples e absurdo (Guinga e Aldir Blanc, 1991) – gravada ao vivo
9. Nó na garganta (Guinga, 1996) – gravada ao vivo
10. Chá de panela (Guinga e Aldir Blanc, 1996) – gravada ao vivo
11. Mello baloeiro (Guinga e Anna Paes, 2018) – gravada em estúdio
12. Baião de Lacan (Guinga e Aldir Blanc, 1993) – gravada ao vivo

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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