Aristóteles afirmava que cada coisa tinha uma finalidade no mundo. O fim era a realização plena da natureza de cada coisa. O nosso fim, como animais que pensam, era alcançar a excelência da razão, por meio de uma vida voltada para esse fim. E para chegarmos lá, precisávamos praticar, desenvolver o hábito, condicionar nossas atividades para que elas não se perdessem em outras atividades que não eram propriamente ruins, como as paixões, mas que estavam longe de ser tudo o que poderíamos alcançar e que Aristóteles chamou de “estado de graça” (eudaimonia)

No entanto, esse estado de graça que uma vida voltada para o desenvolvimento do espírito poderia atingir não era uma tarefa que se realizaria solitariamente. Somos seres sociais e a polis é a nossa natureza a priori, isto é, anterior à nossa percepção de que somos indivíduos. Assim, o bem comum, a felicidade geral, eram o verdadeiro fim da jornada humana. Alcançar esse estágio era a realização. Depois disso, bastava contemplar essa beleza toda. Nada mais seria tão perfeito.

Aristóteles disse tudo isso ao seu filho, Nicômaco, em um esforço de pai que busca orientar, guiar, indicar o caminho para uma vida plena. O preço disso era o que o filósofo chamou de “virtude”, que consistia em manter o equilíbrio das atitudes, evitar tanto os excessos quanto às faltas, e também, como já dito, o hábito, a prática, o exercício diário dessa virtude, que não é rígida, nem única. Cada um sabe os limites e a capacidade que tem e, por isso, o excesso e a falta dependerão desses parâmetros.

O conceito virtuoso de coragem, por exemplo, era um só, traduzido por um meio termo entre não fazer o que um cidadão poderia ter feito e fazer algo que não estava ao seu alcance. A régua da coragem ia, assim, variando de acordo com o amadurecimento de cada um, até atingir aquele momento que, com nosso esforço diário, podemos chamar de sabedoria.

Tudo isso foi pensado e dito há mais de dois mil anos. Hoje, diante do descalabro das paixões que se avolumam por todos os lados, sem peias, martelando nossos ouvidos com palavrões e ameaças, gritos e gestos cheios de fúria, sentimos a falta de as escolas não terem incluído, para os jovens, a leitura, a reflexão e a prática desses conselhos de Aristóteles ao seu filho e aos jovens de sua época. Afinal, como ele asseverou, lembrando que fazer a coisa certa é muito mais simples e fácil e, principalmente, ainda possível: “Os homens são bons de um modo apenas, porém são maus de muitos modos”.

Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

 


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Eduardo Siqueira

Um jornalista que ama Educação. Minhas experiências me fizeram imergir no universo da Educação, sentindo todo o seu poder transformador e percebendo o quanto ela ainda precisa de apoio. Aqui, busco fazer minha parte e ajudar as pessoas a compreendê-la nem que seja um cadinho.

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