Após dar luz ao App Bertha, estudantes Eduarda Rabelo e Yasmin Rezende buscam patrocínio para fortalecer o projeto.
Felizmente, a cada ano que passa as mulheres têm ganhado mais espaço no mundo da tecnologia. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a participação feminina no segmento cresceu 60% nos últimos anos. No entanto, quando olhamos para o dado geral, elas só representam 20% dos profissionais no Brasil.
Esses números tendem a mudar ainda mais graças às iniciativas que vêm sendo realizadas ainda no âmbito estudantil, que promovem maior inclusão e diversidade de gênero em projetos ligados ao setor da tecnologia.
Um deles é o desenvolvido pelas estudantes cearenses Eduarda Rabelo,13, e Yasmim Rezende, 13, que ainda estão no Ensino Fundamental, mas já tiveram uma experiencia de lidar com o desenvolvimento de um aplicativo: o App Bertha.
O aplicativo desenvolvido pelas meninas – já pronto para uso – tem como objetivo promover a conscientização de gênero por meio de divulgação de materiais que enalteçam a figura feminina e contribuam para a desconstrução do machismo na sociedade desde cedo.
É, em resumo, “um app feminista de livros, filmes, grupos de discussões e histórias inspiradoras”, como consta na descrição do app no Instagram.
App Bertha: a concepção
Tudo começou por incentivo de Carla Rabelo, mãe de Eduarda (ou, Duda), que descobriu o perfil do projeto Technovation nas redes sociais e apresentou à filha. Ambas assistiram ao evento Technovation Girls/Florianópolis, no qual eram apresentados projetos construídos exclusivamente por meninas.
“Eu acho importante porque ela tem uma visão de mundo. De como o conhecimento dela pode contribuir diretamente a vida de outra pessoa. Não só a ideia fria de estudar para Enem e passar em um curso bom para ganhar bem. Acho que envolve um propósito maior de vida e, nesse processo, ela se conhece melhor também”, é o que diz Carla.
Ao participarem do Technovation Floripa, ambas conheceram a professora Giselle Araújo, cearense que mora em Santa Catarina e educadora na área de Tecnologia que, ao lado de outros profissionais, atuou como incentivadora e mentora no processo de construção desse projeto.
Para dar seguimento à empreitada, Duda convidou sua amiga de infância Yasmim. Juntas, elas partiram para a concepção e o desenvolvimento do projeto.
O Technovation Girls tem como premissa o desenvolvimento de um aplicativo cuja função atenda aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas. Para tanto é preciso abordar temas como paz, educação, pobreza, entre outros.
Duda e Yasmim preferiram trabalhar em cima da temática da igualdade de gênero.
“No começo da ideia, queríamos tratar o assédio, a violência doméstica, mas, quando fomos conversar com a coordenadora de políticas pública Camila Silveira, ela disse que é um tema muito pesado. Essas mulheres sofrem com o problema do machismo no dia a dia e não percebem”, conta a estudante Eduarda.
A partir desse direcionamento, as meninas optaram por desenvolver uma ferramenta que atuasse especificamente na promoção da igualdade de gênero por meio de materiais que enalteçam o valor da mulher na sociedade.
Na prática, Yasmim se responsabilizaria pelo design e Eduarda pela programação. Dessa forma, nasceu o aplicativo Bertha, em referência a Bertha Lutz, uma das principais referências na luta pelos direitos políticos da mulher no Brasil e uma das pioneiras na política brasileira.
“Ela era uma mulher privilegiada na época. Estudou fora, era bem sucedida, mas teve um olhar por todas. Fez a diferença para todas as mulheres na luta do voto e incluído as mulheres no termo da ONU”, conta Eduarda.
Nessa jornada, profissionais de Educação foram se juntando às meninas para ajudar no desenvolvimento do aplicativo, como a professora da Universidade Federal do Ceará, Juscileide Braga, o mestrando Francisco Elivelton Barbosa e a embaixadora e mentora do Technovation Florianópolis Fernada Maia de Oliveira.
Fernanda, aponta Eduarda, teve papel fundamental na programação do aplicativo, como também na condução das meninas nesse terreno até então desconhecido.
O objetivo do aplicativo

Aplicativo traz dicas de filmes e livros para promoção da igualdade de gênero.
O aplicativo desenvolvido pelas meninas tem como objetivo principal dar apoio psicológico e motivacional para mulheres descobrirem o poder que têm sobre si.
“Nosso app tem histórias, filmes feministas exaltando o papel da mulher na sociedade. Ela não é só princesa que precisa de um príncipe. Uma criança não vai nascer racista, machista, homofóbica… A gente quer reconstruir essa imagem e explicar o verdadeiro sentido, já que não dá para resolver”, pontua Duda.
E esse sentimento da garota faz todo sentido ainda mais por ela vivenciar diariamente nuances do machismo velado e da estereotipação do feminismo.
Conta ela que, certa vez, ao ganhar uma partida de xadrez de um garoto de 7 anos, “ele ficou indignado porque perdeu para uma menina. Com 7 anos já se sentia superior”. Em outra ocasião, uma pessoa próxima relatou que “feminista não depila axila, odeia homem e é lésbica”.
Eduarda reforça que “a gente quer reconstruir essa imagem de que mulheres e homens têm que ser feministas. Feminista não quer ser melhor que o homem”.
O futuro de App Bertha
Um dos desejos das meninas é levar o App Bertha a mais pessoas, de forma contínua. “O app existe, mas não está perfeito, porque a plataforma que usamos para fazê-lo é de graça então não tem recursos suficientes. Mas quando a gente conseguir patrocinador, publicidade, a gente consegue desenvolver algo melhor”, é o que espera Eduarda, que vê na área de Tecnologia um futuro promissor para si.
“Eu conhecia a plataforma em que estou programando através do Technovation e gostei muito. Eu achava essa área muito chata mas não é só isso. Desenvolver um aplicativo é muito legal. Você passa horas programando até achar um jeito de fazer aquilo funcionar”, pontua.
Technovation Girls Sergipe
E já há uma vitrine para isso. Após participar da edição do Technovation Girls de Florianópolis (SC), Eduarda e Yasmim vão participar também da edição de Sergipe, cuja etapa de Pitch Virtual será realizado no próximo sábado,29.
Para a professora Giselle, essa participação é muito representativa para as meninas. “É uma história de integração, elas se movimentaram com as pessoas daqui de Florianópolis e com as de Sergipe. Com isso, a gente está vendo que foi uma ampliação da participação delas. Além de criarem um aplicativo, que já é uma grande ação, elas tiveram uma possibilidade, que a era virtual conseguiu ampliar, de criar conexões de aprendizagem fora do espaço onde vivem”, pontua.
A edição sergipana será realizada inteiramente on-line, com transmissão ao vivo pelo canal no YouTube do Instituto Paramitas, a partir das 9h. Nessa ocasião, estudantes de Sergipe e de outros estados, como as cearenses, apresentarão seus projetos, os desafios e as aprendizados em toda a fase de desenvolvimento.
Será, ainda, uma oportunidade de levar a ideia a possíveis apoiadores e patrocinadores, que possam garantir a sustentabilidade do projeto no longo prazo.
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