A Educação Infantil também foi abalada por conta da pandemia. Agora é hora de professores se reinventarem para resgatar a forma como se aprendia.

De todas as áreas afetadas com o distanciamento social e a pandemia, a educação foi uma das que mais sofreu. O ensino à distância teve seu fim decretado e para 2022 a expectativa é de escolas cheias e alunos com ensino 100% presencial. São crianças de diferentes níveis de aprendizado juntas, pela primeira vez, em quase dois anos de EAD. O desafio de receber esses estudantes após tanto tempo é enorme, eles voltam para a escola com novas rotinas, hábitos e aprendizados, que agora conviverão juntos em sala de aula.

Os professores são os grandes responsáveis por acolher esses alunos e incluí-los nesse ambiente e, para isso, uma preparação emocional é indispensável. É importante trabalhar nesses profissionais a área emocional. Além do cognitivo, os estudantes estão precisando de um acolhimento e do olhar e da escuta sensível. Esse olhar para a saúde mental de cada um deles é importante pois todos perderam pessoas que amavam e esse impacto faz com que cada um tenha uma reação emocional, o que afeta diretamente no aprendizado.

A quarentena ocasionou coisas importantes em termos de impacto no cérebro. A primeira foi a mudança de rotina, algo que não agrada o cérebro. Ao sair da rotina, automaticamente o cérebro tenta puxar para a zona de conforto, travando a pessoa. Os alunos sempre tiveram uma rotina, de repente tiveram que se adaptar a uma situação nova e isso alterou diretamente na forma com que recebem e assimilam as informações, principalmente de ensino.

A flexibilidade mental de se adaptar a novas rotinas foi essencial durante esse período. Quem não conseguiu fazer isso, se desesperou e perdeu o controle. É de suma importância, ao iniciar o ano letivo, a criação de novos hábitos com esses alunos. Cada um deles passou por esse processo de uma forma, alguns assistiam aulas de pijama, já outros se preparavam para esse momento e tinham até os fque dormiam e não acompanhavam as aulas. Foram experiências completamente distintas e agora todos estão de volta e juntos no mesmo ambiente, para receberem as mesmas informações de aprendizado.

Essa formação de novos hábitos exige tempo, mais especificamente 26 dias. Esse é o período que o cérebro precisa para assimilar a criação ou a perda de um hábito e essa mudança deve ser gradual, com pequenas alterações na rotina.

Professores e preparo emocional

Nesse período de ensino remoto surgiram três tipos de alunos, que serão os que voltarão para a escola em 2022.

O primeiro é o que acompanhou as aulas, o que aprendeu o conteúdo. O segundo é o que não tinha acesso às aulas, que não conseguiu se conectar nesse tempo de educação à distância. E o terceiro é que não participou e nem aprendeu nada durante todo esse tempo.

Os três tipos voltarão para sala de aula juntos e cabe ao professor dar conta de ensinar de modo igual para todos diante desse abismo educacional que se criou entre eles.

Diante disso, o preparo emocional é o principal ponto de discussão para a educação infantil em 2022. Não acontece aprendizagem se o emocional não estiver equilibrado. Antes do professor entrar em sala de aula para lecionar, ele precisa cuidar da mente para que possa estar preparado para a escuta generosa com todos esses alunos. Cabe a esses profissionais o suporte para que a aprendizagem aconteça, com um olhar atento para cada um dos estudantes.

É importante destacar o papel dos professores nesse processo. Para eles, os últimos meses do ano sempre foram cansativos, porém estão ainda mais intensos esse ano. Acontece que com todo o cenário pandêmico, o esgotamento mental veio mais forte para todos. Segundo pesquisa divulgada pelo Estadão, cerca de 72% dos professores estão com problema de saúde mental pós-pandemia. Esse número é assustador e importante para servir como um alerta para esses profissionais. É preocupante pensar que quem vai enfrentar essa realidade de alunos em desníveis não está emocionalmente preparado para isso.

Dicas

Exercícios simples podem ajudar nesse processo, já que a mesma área do cérebro responsável pelo equilíbrio físico é também a do emocional. Nesse sentido, trabalhar com atividades de exercício físico é essencial para a saúde mental e emocional dos alunos, além excelente forma de começar as aulas. Pular corda, amarelinha e até mesmo massinha e argila são coisas rotineiras e que fazem total diferença para o estímulo do cérebro.

Esses exercícios são essenciais tanto para os alunos da Educação Infantil quanto para os professores. Um ponto de luz azul no quarto também é bacana para o estímulo. Acompanhada de meditação e alongamento são ótimos para o treinamento mental e ajuste do equilíbrio emocional. São simples, podem ser encontrados em aplicativos e são super acessíveis.

*Thais Faria é neurocientista, mestre em educação e pós doutoranda em Neurociência Educacional.

About the Author

Eduardo Siqueira

Um jornalista que ama Educação. Minhas experiências me fizeram imergir no universo da Educação, sentindo todo o seu poder transformador e percebendo o quanto ela ainda precisa de apoio. Aqui, busco fazer minha parte e ajudar as pessoas a compreendê-la nem que seja um cadinho.

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