Percepção sobre evolução da aprendizagem dos estudantes que voltaram para as aulas presenciais é observada em todos os ciclos da educação básica.
Estudantes e famílias veem impacto positivo do retorno presencial das escolas, mas identificam necessidade de promoção de programas de reforço e recuperação de aprendizagem. É o que mostra a pesquisa “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, realizada em dezembro de 2021 pelo Datafolha, em todo o Brasil, a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), organizações que estão promovendo levantamentos sobre os desafios da pandemia na educação desde maio de 2020. Nesta nova rodada, de acordo com pais e responsáveis, 88% dos estudantes da rede pública de ensino tiveram as escolas reabertas. Segundo eles, 83% dos estudantes que retornaram para as atividades presenciais estão evoluindo no aprendizado – percepção observada em todas as regiões do Brasil e em todos os ciclos de ensino.
Ainda de acordo com as famílias, os alunos que voltaram às atividades presenciais estão mais animados (86%), mais otimistas com o futuro (80%), mais independentes para realizar as tarefas (84%) e mais interessados nos estudos (77%) do que aqueles que continuavam no ensino remoto (respectivamente 74%, 72%, 72% e 60%).
Porém, a boa notícia não põe fim à preocupação com as lacunas de aprendizagem deixadas pelo fechamento das escolas ao longo da pandemia da Covid-19. Ao questionar sobre quais matérias será preciso mais apoio, na visão dos pais e responsáveis a maioria dos estudantes precisará em: matemática (71%), língua portuguesa (70%), ciências (62%) e história (60%). Entre as crianças em fase de alfabetização, 76% precisarão de mais atenção das escolas nessa retomada das aulas presenciais, segundo avaliam as famílias. Levantamento recém divulgado pelo Todos pela Educação, com base em dados da Pnad Contínua, do IBGE, mostra que mais de 40% das crianças com 6 ou 7 anos de idade não sabiam ler ou escrever em 2021, o que representa mais de 2,4 milhões de crianças no país.
Neste sentido, 28% dos responsáveis sugerem que as escolas priorizem a promoção de programas de reforço e recuperação da aprendizagem. Outro ponto de destaque é a percepção das famílias de que a gestão educacional também deve priorizar mais oportunidades de capacitação para os professores (23%). Também foram elencados como prioridade garantir o aumento salarial dos docentes (43%), melhorar a infraestrutura das escolas (30%) e ampliar o uso de tecnologia na educação (22%).
“A pesquisa mostra o quanto a reabertura das escolas é importante: os alunos estão mais motivados, enquanto os pais já veem o aprendizado sendo retomado. O importante é seguir nesse caminho, garantindo que os conteúdos que ficaram para trás sejam gradualmente recuperados, com uma atenção individualizada às necessidades de cada aluno – especialmente os mais vulneráveis, que foram os mais afetados pela pandemia”, explica Daniel de Bonis, diretor de Políticas Educacionais na Fundação Lemann.
Segundo a pesquisa, em dezembro, 2 em cada 10 estudantes corriam o risco de abandonar a escola, na percepção de pais e responsáveis. Dentre os motivos mais citados para o medo da desistência estão o fato de o estudante ter perdido o interesse pelos estudos (29%) e não estar conseguindo acompanhar as atividades (29%) por conta da pandemia. Outros 15% citaram falta de acolhimento e 12% a necessidade de trabalhar para ajudar a família. Esse último resultado é maior entre os alunos de ensino médio (21%), que também são os mais impactados pela falta de interesse (38%).
“As famílias revelaram que a intenção dos alunos da rede pública em abandonar a escola ainda é muita alta, mesmo com o retorno presencial. Isso reforça o quanto temos que nos concentrar em estratégias para o acolhimento, oferecendo a eles ferramentas para que consigam evoluir nos seus aprendizados. Além das aulas de reforço, é preciso olhar como os estudantes estão inseridos em um cenário mais amplo, que envolve desde a diminuição de renda e segurança alimentar das famílias até os aspectos emocionais. A articulação entre os entes federativos e a colaboração da sociedade civil é fundamental para não deixarmos ninguém para trás”, afirma a superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann.
Ainda na percepção das famílias, entre os estudantes da alfabetização e dos anos iniciais, a falta de acolhimento se destaca como um motivo para o risco de abandonar a escola, afetando de forma desigual crianças brancas (9%) e negras (19%).
Outro achado importante da pesquisa foi que 89% dos estudantes entre 12 e 17 anos da rede pública já estão vacinados e, no caso de 76% das crianças de 6 e 11, seus pais e responsáveis declararam que pretendiam vaciná-las imediatamente.
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Aprendizado na pandemia
Antes da reabertura das escolas e durante as atividades não presenciais, a colaboração da família e dos professores foi o que mais contribuiu para o aprendizado longe da sala de aula. Um em cada quatro responsáveis ouvidos na pesquisa afirmou que a colaboração da família foi um dos principais apoios para o aprendizado. E a maioria absoluta (99%) reconheceu a importância dos professores na vida das crianças e jovens.
Além disso, 96% dos responsáveis declararam que gostariam de continuar mais próximos dos estudantes em seu processo de aprendizagem, seja acompanhando os estudos mais de perto (48%), conversando mais sobre as atividades escolares (18%), tendo mais contato com os professores (12%), estando mais atento à motivação com os estudos (11%) ou ficando mais próximo da escola (7%).
Desigualdades de acesso ao ensino presencial
A pesquisa mostra que, em dezembro, 88% dos estudantes tiveram as escolas reabertas mesmo que parcialmente, mas aponta para grande desigualdade nesse processo entre as regiões do país: no Nordeste, esse índice foi de 77%, enquanto no Sudeste foi de 97%, o que representa uma diferença de 20 pontos percentuais.
Além da desigualdade regional, alunos de escola com nível socioeconômico (NSE) mais alto também possuem mais acesso ao processo de reabertura. A diferença neste caso foi de 12 pontos percentuais – 80% entre estudantes de escolas de baixo NSE contra 92% de estudantes de alto NSE.
A pesquisa também identificou que, em dezembro de 2021, mais de 800 mil estudantes continuavam sem receber nenhum tipo de atividade escolar, mesmo estando matriculados.
Outro alerta da pesquisa é que um em cada quatro estudantes encerrou o ano sem nenhuma atividade presencial – entre os estudantes de escolas de baixo nível socioeconômico, o índice chega a 34%. No total de estudantes, apenas metade (50%) dos estudantes retornou às atividades totalmente presenciais até o fim de 2021 e outros 23% dos estudantes tiveram aulas presenciais e remotas.
A pesquisa
A pesquisa quantitativa foi realizada pelo Datafolha por meio de abordagem telefônica em todo o Brasil. Foram ouvidos 1.306 pais e responsáveis por 1.850 estudantes, ao longo do mês de dezembro de 2021.