Pesquisa realizada pela Nova Escola mostra que a percepção dos professores sobre 2020 é de satisfação, mas traz alerta à saúde.

percepção dos professores sobre 2020

Apesar de 2020 não ter sido um ano bom para 35% dos respondentes, 71% se disseram, em janeiro, motivados com o retorno. Crédito: Reprodução/Getty Images.

A Nova Escola, negócio social voltado a oferecer recursos para educadores e a melhorar a educação pública no Brasil, realizou uma pesquisa online com sua base de usuários que revela a percepção dos professores sobre 2020 e as suas expectativas para 2021.

O levantamento foi respondido entre os dias 5 e 15 de janeiro de 2021, no site da Nova Escola, por 1.560 professores da Educação Básica, sendo 87,3% mulheres. Entre os respondentes, 64% têm 31 e 50 anos, e maioria (80,2%) leciona em escolas públicas (municipais, estaduais, federais e conveniadas). 1.205 (59%) atuam no Ensino Fundamental. O questionário contou com respondentes de todos os estados da Federação. A adesão maior aconteceu no Estado de São Paulo, com 25,3% dos respondentes.

A ação se propôs fazer um balanço do último ano e mapeamento das expectativas dos professores para 2021, levando em consideração:

  • a motivação que sentem;
  • as informações que receberam das suas redes de ensino sobre planejamento;
  • o apoio que esperam receber dessas redes para a recepção e a avaliação diagnóstica dos alunos e para as práticas de ensino em contextos híbridos, que inclui momentos presenciais e remotos;
  • e como avaliam o preparo dos alunos para o novo ano.

Além desses aspectos, a pesquisa mostra como os professores avaliam o próprio desempenho e o que acham do desempenho dos alunos e das redes no ano que passou.

A percepção dos professores sobre 2020 quanto ao próprio desempenho é satisfatória

A atividade profissional dos professores foi, sem dúvida, uma das mais afetadas pela pandemia, mas, o balanço feito depois de um ano de pandemia mostra que muitos se sentem satisfeitos em relação ao próprio desempenho, apesar de reconhecerem que a qualidade de vida ficou comprometida em 2020.

Segundo os dados, os educadores encerram 2020 ainda conectados com os alunos. 68,5% se autodeclaram com bom (38,1%) ou muito bom (30,4%) desempenho no quesito manter vínculos com os estudantes – e mais confiantes em relação ao uso de tecnologias – 69,5% com bom (42,9%) ou muito bom (26,6%) desempenho em relação a adaptar-se às tecnologias da informação e comunicação.

Já quando questionados sobre seu desempenho em relação a manter a saúde emocional e física, auto avaliação positiva cai para 46,8% (32,3% bom e 14,%% muito bom).

percepção dos professores sobre 2020- grafico 1

Em uma escala de 1 a 5 (sendo 1, “muito ruim” e 5, “muito bom”), como você avalia o seu desempenho em 2020, em relação a manter a sua saúde emocional e física. Assinalou 0 os que preferiram não responder.

O ano foi difícil e os professores precisaram se empenhar muito para conseguir lidar com a tecnologia, ou com a falta dela, para adaptar a sua rotina ao ensino remoto e para manter alunos e pais motivados. Houve, sem dúvida, muito empenho, mas também uma sobrecarga emocional grande, o que fez a saúde mental, questão que já acompanha a profissão há anos, se tornar um tema urgente para os professores“, diz Ana Ligia Scachetti, Gerente Pedagógica da Nova Escola .

Desempenho das redes e dos alunos em 2020

Entre os docentes ouvidos pela pesquisa, 46,9% afirmam que suas redes garantiram suporte pedagógico bom (27,9%) e muito bom (19%). Quanto ao fornecimento de materiais e equipamentos, 36,7% consideraram o desempenho das redes bom (23%) e muito bom (13,7%). No suporte emocional, a avaliação é mais crítica, com 31,7% considerando o suporte bom (20,2%) e muito bom (11,5%). Nesse quesito, 17,1% consideraram o suporte emocional muito ruim.

Quanto ao desempenho dos estudantes em 2020, a categoria mais escolhida foi de desempenho intermediário nas três questões sobre o tema avaliadas pela pesquisa. Quando se trata do currículo, o desempenho neutro foi a escolha da maioria, totalizando 41,2%. O mesmo aconteceu quando se trata da participação dos alunos nas aulas (32,9%) e nas habilidades socioemocionais (39,7%).

Apenas 6,5% julgam muito bom o rendimento deles em relação aos temas do currículo escolar previstos para o ano letivo e à participação nas aulas ao vivo e na realização de atividades. Já 32,8% dos professores consultados consideram ruim (25,3%) ou muito ruim (7,5%) o desempenho dos alunos em relação às habilidades socioemocionais, como resiliência e autonomia.

Não falamos em ‘ano perdido’ na Educação. As perdas irreparáveis deste ano são de vidas. Há também muito sofrimento envolvendo questões econômicas em famílias vulneráveis. Na Educação, teremos tempo para retomar e recuperar as aprendizagens. Até por isso sabemos que neste ano as turmas serão mais heterogêneas. Daí a importância de conseguir diagnosticar, já no início das aulas, o que os alunos aprenderam e o que os professores vão precisar retomar. Tudo isso sem esquecer do acolhimento que será necessário antes de tudo e para todos os atores da comunidade escolar”, completa Ana Ligia .

Perspectiva em janeiro era de esperança e otimismo para 2021

Apesar de menos de um quarto dos respondentes (23,2%) avaliar o período letivo de 2020 como bom ou muito bom, grande parte acreditava em janeiro que 2021 seria um ano positivo. A maioria (71%) afirmou estar motivada para o próximo ano em um nível bom (31,6%) ou muito bom (39,4%).

Quando o assunto é o apoio da rede para a recepção dos alunos, a maioria dos docentes (64,8%) disse ter boas (33,8%) ou muito boas (31%) expectativas. O mesmo otimismo se repete quando questionados sobre o apoio da rede para as avaliações diagnósticas dos alunos, onde mais da metade respondeu de forma positiva (31,4% responderam bom e 21,4% muito bom). A expectativa da rede para a prática de ensino em contextos híbridos também foi vista como positiva pela maioria (30,7% bom e 22,6% muito bom) .

Mesmo diante do otimismo para 2021, as estratégias e os planejamentos propostos pelas redes de ensino para o próximo ano aparecem como um aspecto que gera desconfiança entre os participantes. Na questão correspondente as opções bom (25,2%) e muito bom (13,1%) totalizam 38,3%, já as categorias ruim (14%) ou muito ruim (11,2%), somam 25,2%. O preparo dos alunos, em termos de conteúdo e habilidades do currículo, é outro tema que, segundo 23% dos professores (ruim 15,6% e muito ruim 7,4%), demanda atenção

 

percepção dos professores sobre 2020 - graifco 2

Em uma escala de 1 a 5 (sendo 1, “muito ruim” e 5, “muito bom”), como você avalia sua disposição e motivação para 2021. Assinalou 0 os que preferiram não responder.

“As respostas abertas sugerem que o otimismo dos professores vem principalmente da perspectiva da vacina em 2021”, finaliza Ana Ligia Scachetti.

Em resumo, a percepção dos professores sobre 2020 é que:

  • Docentes avaliam bem o relacionamento que conseguiram manter com os alunos em 2020 – 68,5% disseram que foi bom ou muito bom – e sua adaptação à tecnologia- 69,5% se sentem confiantes
  • Autoavaliação positiva cai para 46,8% quando se trata da saúde física e emocional
  • Para educadores, o desempenho geral das redes e dos alunos no ano passado foi mediano
  • Quando se fala em sonhos para 2021, vacina é a palavra mais citada entre os professores ouvidos
  • Apesar de 2020 não ter sido um ano bom para 35% dos respondentes, 71% se disseram, em janeiro, motivados com o retorno

 

About the Author

Eduardo Siqueira

Um jornalista que ama Educação. Minhas experiências me fizeram imergir no universo da Educação, sentindo todo o seu poder transformador e percebendo o quanto ela ainda precisa de apoio. Aqui, busco fazer minha parte e ajudar as pessoas a compreendê-la nem que seja um cadinho.

View All Articles