A educação sempre aparece como remédio para os males do Brasil, principalmente a desigualdade social. Sem negar que mais anos de estudo melhoram a vida da população, especialistas começam, porém, a relativizar essa verdade absoluta. “É interessante para a elite e para o governo tratar a educação como uma panaceia, porque se estabelece uma situação de inércia social. Um segmento que tem crescido muito é o de pessoas com ensino superior, que hoje supera 15% dos jovens, mas a desigualdade interna desse grupo é tremenda”, diz o economista Alexandre Barbosa, professor do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) da USP. Para ele, a desigualdade no Brasil é estrutural e não será solucionada exclusivamente com mais investimentos em educação.

Sala de Aula

Educadores também não veem o acesso à escola como garantia de redução da desigualdade, já que a pior escolarização dos mais pobres – que não estudam línguas, por exemplo – pesa na hora de conseguir bons empregos. “O pobre chegou à universidade via políticas públicas, mas, mesmo com notas próximas às do aluno pagante e com o mesmo diploma, há entre eles uma diferença de capital cultural que faz falta no mercado”, diz Leda Rodrigues, professora de pedagogia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. A semente da desigualdade entre alunos de classes sociais diferentes na universidade está nos primeiros anos escolares. “Desde o ensino básico, crianças pobres saem da escola com uma defasagem em relação às da elite porque não é só a escola que faz a aprendizagem. Elas já não têm em casa o capital cultural que vem da família”, diz Rodrigues. O professor Romualdo de Oliveira, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, defende que a educação básica tem potencial para equalizar a diferença de capital cultural entre crianças de origens díspares, desde que o governo tenha políticas focadas em grupos vulneráveis coordenadas com outras frentes de ataque à desigualdade de renda. “No atacado, o sistema hoje ou é neutro ou acentua a desigualdade de origem. Ele não vai combatê-la se não tem elementos para garantir educação de qualidade para todos e principalmente para os mais pobres”, diz Oliveira.

Investimento Público em Educação

De fato, uma pesquisa do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária) comprova que crianças com o mesmo capital cultural, em escolas cujo entorno é mais vulnerável, como as de periferia de grandes cidades, apresentam menor rendimento. “O impacto da vulnerabilidade do território no desempenho escolar do aluno pode gerar desigualdade”, afirma Vanda Ribeiro, autora do estudo. O economista Ricardo Paes de Barros defende que o governo federal invista para reduzir a diferença de gasto por aluno entre estados e municípios com mais e menos recursos. “Por que a gente padronizou o serviço bancário pelo país e não a educação? É preciso dar a todas as escolas a mesma infraestrutura”.

Fonte: Folha de SP

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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