Garantir um bom desempenho das crianças no ciclo de alfabetização na escola pode ser fundamental para que estas tenham aprendizagem adequada ao longo do ensino fundamental. Praticamente um consenso entre especialistas, a relação entre estes dois fatores foi quantificada em um estudo inédito do Instituto Ayrton Senna (IAS) obtido pelo Estadão.

Em 79% das cidades brasileiras, há uma relação direta entre a aprendizagem das crianças em leitura e escrita e, mais tarde, em língua portuguesa. Ou seja: quanto mais alunos aprendem o adequado enquanto são alfabetizados, mais satisfatória será a aprendizagem nos anos seguintes. Já em matemática, a relação atingiu 83% das cidades. Para chegar aos resultados, os pesquisadores fizeram um cruzamento de dois indicadores nacionais: a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2014, que mede o desempenho dos alunos em leitura, escrita e matemática no último ano do ciclo de alfabetização (3º ano do ensino fundamental) e a Prova Brasil de 2013, que mede o desempenho em língua portuguesa e matemática e é feita com alunos dos anos iniciais (5º ano) e anos finais (9º ano) do ensino fundamental. Os anos finais foram desconsiderados nesta pesquisa.

Foram avaliados 5.226 municípios. “Por ser a pedra angular, a alfabetização precisa merecer uma atenção. Pela primeira vez, estamos abordando de forma clara, não só por uma percepção ou achismo, esta relação. Ou resolvemos o problema da alfabetização, ou comprometemos todo o resto”, diz Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto. Garantir a alfabetização na idade certa é um dos maiores desafios do Ministério da Educação (MEC).

O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê que, até 2024, todas as crianças estejam alfabetizadas no 3º ano do ensino fundamental. Mas até 2014, segundo a última ANA, quase seis em cada dez alunos (57%) nesta idade não davam conta de resolver problemas simples de matemática. E 22% chegam a esta etapa sem conseguir ler um texto.

O levantamento identificou, entre os municípios que não atingiram o porcentual esperado de alunos com aprendizagem adequada no 5º ano – mais de 50%, segundo o parâmetro do estudo – quais estão conseguindo reverter o problema melhorando a qualidade da alfabetização. No caso da língua portuguesa, 3.337 cidades tiveram menos de 50% dos alunos do 5º ano com aprendizado adequado em 2013. Destas, 335 (10%) tiveram menos da metade dos alunos com aprendizado suficiente em leitura no ciclo de alfabetização.

Em escrita, o número de municípios que não conseguiram reverter o quadro é ainda maior: 1.296 (39%) também não atingiram a meta de alunos com aprendizagem adequada. A maior dificuldade, no entanto, está em matemática. Neste caso, 3.705 cidades tiveram menos da metade dos alunos com aprendizado adequado no 5º ano em 2013, quadro que se repete no ano seguinte na alfabetização, quando 2.646 (71%) municípios não atingem a meta.

Para o coordenador de pesquisas do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária (Cenpec), Antonio Augusto Gomes Batista, a escola deve evitar a reprovação e focar em programas que deem atenção ao aluno nos anos seguintes. “Salvo raras exceções, todas são capazes de aprender a ler e escrever. É preciso ter um trabalho específico com esses alunos”, diz. Ele aposta, por exemplo, em ações no contraturno para garantir fluência em leitura e domínio na escrita. Batista também defende que as redes ensinem continuamente como escrever e ler, além do básico. “A escola esquece que há uma continuidade no ensino da leitura e da produção de texto. Eles começam a trabalhar com ensino de gramática, substantivo, verbo, ortografia. Os alunos dominam a mecânica da alfabetização, mas não dominam esse conhecimento na leitura e na produção de textos”, afirma.

Fonte: O Estado de SP

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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