Acesso à educação, oferta de tratamentos de saúde física e mental, garantia de direitos iguais, idade mínima de 18 anos para o casamento e combate ao trabalho infantil. Essas são algumas das 10 ações propostas pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para que os países garantam qualidade de vida às meninas de 10 anos, uma idade considerada crítica pela ONU para o desenvolvimento pleno dessas garotas.

Segundo o relatório “10 — Como nosso futuro depende de meninas nessa idade decisiva”, lançado nesta quarta-feira, o empoderamento de meninas nessa idade mudaria, a longo prazo, a realidade de muitas nações. No âmbito econômico, as localidades menos desenvolvidas, que abrigam cerca de 89% dessas garotas, teriam benefícios que somariam, aproximadamente, R$ 21 bilhões anuais.

10 anos e vulneráveis
De acordo com o representante do UNFPA no Brasil, Jaime Nadal, as meninas de 10 anos merecem maior atenção porque elas estão começando a transição da infância para a vida adulta. Nessa fase, com o início da puberdade, as garotas ficam expostas a uma poderosa combinação de fatores — formada por parentes, figuras da comunidade, normas sociais e culturais, instituições e leis discriminatórias —, que as impede de seguir rumo a uma vida autônoma.

“Ela pode ser tirada da escola para começar uma vida ao lado de um marido que não escolheu, ou se tornar uma propriedade que pode ser comprada ou vendida, sem opção de escolha”, afirma o representante da UNFPA no Brasil

Dos cerca de 60 milhões de meninas no mundo atualmente, 35 milhões vivem em países onde mulheres têm menos direitos que os homens, de acordo com o Índice de Desigualdade de Gênero, elaborado pela ONU. Isso significa que quase seis em 10 meninas vivem em lugares onde as normas e práticas de gênero as deixam em grande desvantagem, tanto aos 10 anos quanto na vida adulta.

Em relação a seus irmãos, de acordo com Nadal, essas meninas, em geral, têm menos chance de permanecer na escola, são mais expostas ao trabalho infantil (especialmente em países coniventes com o trabalho não remunerado) e têm maior probabilidade de se casarem antes de completar 18 anos e sofrerem violência do parceiro.

ONU aposta nas meninas
As normas desiguais de gênero ferem tanto as meninas quanto os meninos, mas são elas as mais afetadas, mostra o relatório. E, ao permitir essa realidade, os países também perdem.

Impedindo as meninas de se desenvolverem, as nações perdem profissionais qualificadas que poderiam entrar no mercado de trabalho em cerca de 15 anos e teriam mais condições de cuidar de seu bem-estar e sexualidade. O resultado é desperdício de força produtiva e mais gastos com saúde, representando prejuízo na casa dos R$ 21 bilhões.

“A igualdade de gêneros não traz benefícios apenas para as mulheres, mas para toda a sociedade. Não só no âmbito social, mas também no econômico”, explica Nadal.

Conheça as 10 medidas sugeridas pela ONU:

1- Estipular a igualdade legal para as meninas, respaldada por uma prática jurídica correspondente
2- Banir todas as práticas nocivas às meninas e estabelecer a idade mínima de 18 anos para o casamento.
3- Oferecer educação segura e de alta qualidade, que apoie integralmente a igualdade de gênero nos currículos, nos padrões de ensino e nas atividades extracurriculares.
4- Ao promover a universalização da atenção em saúde, instituir a realização de exames de checkup de saúde mental e física para todas as meninas aos 10 anos de idade.
5- Oferecer educação integral e universal em sexualidade no início da puberdade.
6- Instituir um foco rigoroso e sistemático na inclusão, atuando sobre todos os fatores que contribuem para deixar as meninas em situação de vulnerabilidade para trás.
7- Mapear e preencher as lacunas de investimento nas jovens adolescentes.
8- Mobilizar novos fundos para saúde mental, proteção e redução do trabalho não remunerado que limitam as opções para as meninas.
9- Usar a revolução de dados da Agenda 2030 para mapear o progresso das meninas, inclusive em saúde sexual e reprodutiva.
10- Envolver as meninas, os meninos e todas as pessoas próximas no questionamento e mudança das normas discriminatórias de gênero.

Fonte: Diário de Pernambuco

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Valeska Andrade

Formada em História pela Universidade Federal do Ceará e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Cultura Brasileira e Arte Educação. Coordenou o Programa O POVO na Educação até agosto de 2010. Pesquisadora e orientadora do POVO na Educação de 2003 a 2010, desenvolveu, entre outras atividades, a leitura crítica e a educomunicação nas salas de aula, utilizando o jornal como principal ferramenta pedagógica. Atualmente, é professora de história da rede estadual de ensino. Pesquisadora do Maracatu Cearense e das práticas educacionais inovadoras. Sempre curiosa!!!

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