E se fosse nos dada a oportunidade de recomeçar, diante de tantos infortúnios? Se  pudéssemos iniciar ciclos de desenvolvimentos humanos mais saudáveis, que nos garantissem, daqui a alguns anos, uma sociedade mais igualitária, um ambiente bem menos violento, com índices de pobreza e evasão escolar, por exemplo, diminuídos de modo relevante?

Isso é possível e o segredo está na criança pequena e em todo o cuidado que dispensamos a ela em seus primeiros seis anos de vida. É o que defendem os pesquisadores que participam do Seminário Internacional Mais Infância Ceará: Criança é Prioridade, realizado ontem e hoje no Centro de Eventos do Ceará.

Para a pediatra Mary Young, a qualidade da primeira infância tem um impacto enorme na qualidade da população. Diretora do Centro de Desenvolvimento Infantil da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento da China e conselheira sênior do Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard, Mary falou para uma plateia eminentemente de gestores públicos sobre a importância de se investir na primeira infância.

“Maus-tratos e negligências desestruturam funções no cérebro, muitas vezes, irreversíveis. Crianças que não têm estímulos adequados, que não têm adequada assistência na saúde, nas creches, nas pré-escolas, sem vínculos fortalecidos com a família, sofrem de problemas cognitivos e emocionais quando crescem”, explica.

O pediatra Álvaro Madeiro Leite, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador técnico-científico do Instituto Primeira Infância (Iprede), compartilhou que “uma criança que sente o apego seguro cresce segura, com autoestima — e isso traz reflexos positivos para a sociedade inteira”. “Experiências adversas, como violências domésticas, geram adultos mais vulneráveis à drogadição, por exemplo”, destaca.

O Seminário, promovido pelo Governo do Estado através do Programa Mais Infância, tem o objetivo de construir com prefeitos, secretários da Educação, da Saúde e da Assistência Social o fortalecimento da infância e da garantia dos seus direitos.

De acordo com a primeira-dama do Estado e idealizadora do Mais Infância, Onélia Leite de Santana, o momento é para sensibilizar gestores e gerar mobilização, “para que eles, ao saírem daqui, caiam em campo, pensem ideias, elaborem projetos para a infância em seus municípios. Que possam identificar e resgatar essas crianças que vivem em extrema pobreza, priorizar essas crianças em situação de vulnerabilidade para as creches”, torce.

A presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará, Rosa Almeida, primeira-dama de Acopiara, diz que incentiva cada município a se dedicar a projetos específicos para esse público. Para ela, a política intersetorial, que integra várias pastas em torno da mesma causa, “ainda engatinha no Ceará, mas já é uma realidade almejada”. “Já se reconhece a importância disso, de que precisamos que ela aconteça, para que a assistência às crianças aconteça, de fato”, explica Rosa.

Na ocasião, foi assinado o termo de adesão ao Pacto Municipal da Infância, entre Estado e municípios. O evento segue hoje com palestras que tratam sobre a infância em contextos de vulnerabilidade e experiências internacionais de políticas públicas na América Latina.

Serviço
Seminário Internacional Mais Infância Ceará
Quando: até hoje, das 8h às 17h30min
Onde: Centro de Eventos do Ceará

FONTE: OPOVO VERSÃO IMPRESSA (Por Sara Rebeca Aguiar)

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Sara Rebeca

Jornalista e professora. Coordenadora pedagógica do Programa O POVO Educação.

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