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Então pessoal, hoje uma das resenhas é de um dos livros mais preferidos da minha vida e da minha autora preferida, estou falando de A Hora é da Estrela de Clarice Lispector. Muita gente sabe que o objetivo da obra de Clarice é sondar os lugares mais profundos do psicológico e dos sentimentos de suas personagens. Assim, ela consegue mostrar o conflito interno de uma maneira única, de um jeito que  marca seu estilo. É exatamente essa introspecção que marca seu último livro publicado em vida, A Hora da Estrela.

Nele, somos apresentados a Ricardo S. M., o narrador da história e que, ao mesmo tempo, toma a forma de um dos personagens principais da história. O narrador nos conta sobre Macabéa, talvez a personagem mais miserável que você pode conhecer.

“Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha.”

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Alternando entre a narração, as reflexões de Macabéa e as do próprio Rodrigo S. M., conhecemos a história da mulher. Nordestina, virgem e miserável, mal tem a consciência de que existe. Depois de perder a tia, muda-se para o Rio de Janeiro, onde se emprega como datilógrafa. Na sua vida sem graça, seu único passatempo é ouvir o rádio que pega emprestado de uma das colegas. Porém, tudo muda quando ela conhece Olímpico.

É uma história extremamente simples. Nas palavras do próprio narrador: “Proponho-me que não seja complexo o que escreverei”. Porém, Clarice constrói essa simples narrativa num pilar de reflexão e introspecção, utilizando palavras e metáforas que, além de nos fazer ler o mesmo parágrafo várias vezes, constroem um sentido poético inigualável.

Através desse pilar, Clarice Lispector nos leva à questões sobre a nossa existência, sobre o nosso papel individual na sociedade e sobre quem somos nós. De algum modo, é possível se identificar com Macabéa em algum momento da história. Quem nunca se sentiu perdido? Quem nunca ficou em choque ao perceber a verdadeira realidade que nos cerca? Quem nunca se apaixonou pela pessoa errada? Quem nunca levou um bolo na vida?

“Pois que vida é assim: aperta-se o botão e a vida acende. Só que ela não sabia qual era o botão de acender. Nem se dava conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.”

A escrita, porém, pode não agradar a todos. Clarice Lispector possui uma linguagem própria, cheia de metáforas, grafias próprias, frases articuladas de um jeito único e longos parágrafos de filosofia e reflexão. Mas com um esforço acabamos nos envolvendo na história de Macabéa e nos apaixonamos por ela, como o próprio narrador.

Há também uma adaptação do livro de Clarice para o cinema, confere aí:

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=WA_DoAAwc2E[/youtube]

Em suma, com menos de 90 páginas Clarice foi capaz de criar uma história que apesar de sua simplicidade e de seu número de personagens extremamente reduzido, nos cativa desde o início e nos deixa pensando se, no fundo, não passamos de uma caixinha de música meio desafinada como Macabéa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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