retratos meus, e(ternos)

retratos meus, e(ternos)

Além das fotografias guardadas em uma caixa preta, onde deposito resíduos do passado, no meu âmago, ainda existe uma criança. Uma criança ávida de liberdade e de compreensão, quase que um pássaro perdido no ninho. Não queria ter crescido, queria cometer o mesmo pecado que o Peter Pan, ser criança para sempre e para sempre ser criança, mera inocência, não é possível, ou é?
Ainda é possível sim ter hábitos infantis, ser criança por dentro, por mais que não se possa voltar no tempo, até porque ainda não existe máquina do tempo, porque se existisse, com certeza, sem sombra de dúvidas, eu entraria nela e mandava voltar pelos anos de 1998, 99, 2000 e viver a melhor época da minha vida: a infância.
Saudades dos sábados onde as crianças da minha rua formavam verdadeiras gangues, onde brincávamos partidas intermináveis de bila, quando cansávamos lá vinha a ideia de brincar de carimba, de pega pega , de esconde esconde e da minha brincadeira preferida: jogo dos sete pecados, onde é fazíamos um enorme círculo no chão com giz, e as crianças ficavam dentro desta redoma e um chamava o nome do outro e gritava: PÁRA! Tínhamos que ficar estátuas, feito múmias, o jogador contava sete passos do círculo e jogava a bola, quem ficasse inerte ao ataque corria para dentro do círculo e estava salvo, ô época boa.
Só era ruim brincar com bola, porque de vez em quando, um inábil vinha e chutava a bola para a pista e ploft, a nossa brincadeira estava acabada por conta que os carros não perdoavam, passavam pela bola e a espocava, era triste, quase que uma matança. Já assisti a verdadeiros massacres de bolas infantis, o jogo acabava, a partida estava perdida. Mas como criança não desiste fácil das coisas, invetávamos outra brincadeira e mais outra e mais outra até que nossos pais nos chamassem para entrar em casa, era o fim.
Já contei que a minha infância daria um livro, quem sabe um dia eu não sento e escrevo todas as lembranças que eu tenho daquele tempo? Acho super possível, tenho tudo gravado na minha caixola, no meu coração e na minha imaginação. Essa semana mesmo, me peguei lembrando do meu tempo de criança, das minhas birras, dos meu choros, das minhas proibições e descobertas.
Aprendi muito na infância, vivi ao máximo a época que segundo os especialistas, é a mais importante na vida de uma pessoa, sendo capaz de determinar o futuro do indivíduo. Meio que acredito nisso, sempre gostei de escrever contos quando era pequenos, estórias sem pé nem cabeça, pegava livros na biblioteca que eu jamais imaginaria que lesse quando fosse grande, é engraçado de ver isso.

Eu em um Natal do passado

Eu em um Natal do passado

Termino esta crônica com uma dor no peito, com uma saudade inflamada, com um sonho de voltar ao tempo, mas ao mesmo tempo com um orgulho no coração. Eu vivi com muita intensidade a minha época de criança, com liberdade, com inocência, com carinho, com segurança dos meus pais, naquela época o mundo ainda não era tão nefasto e assustador como hoje. Hoje não temos a segurança de deixar as crianças no meio da rua, brincando com os amigos, o cotidiano das páginas policias não nos deixa mentir: está perigoso. Já passou o meu tempo, chegou o tempo para outros, e espero profundamente que estes outros vivam como eu vivi, dentro do limite das circunstâncias que nos encontramos hoje, viva a infância, essa doce experiência que plantou em mim e não sai mais nunca, não quero perder os sinais infantis, quero apenas viver em harmonia entre a maturidade e a infância. Ser criança todo mundo já foi, agora é tempo de ser adulto.

 

Texto e Imagem: Eduardo Sousa