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Tristessa, este foi o meu primeiro contato que tive com as obras de Jack Kerouac, já tinha ouvido muito falar de On the Road e outros, mas em um belo dia estava na Cultura e resolvi comprar essa edição pocket, li em um di, e vou dizer: não é uma leitura fácil. O que eu posso dizer ao término da leitura é que o cara é muito doido, afinal, o romance é quase autobiográfico.
A narração em primeira pessoa é ágil, mas confusa – atropelam-se pontuações, onde as orações que sucedem às outras nem sempre são conexas, evidenciando a dinâmica bastante alucinada do protagonista Jack e dos coadjuvantes Tristessa, Cruz, El Indio, entre outros viciados/alcóolatras/e afins.

Um ponto interessante do livro é a forma da qual Jack enxerga Tristessa, sua amada. Nas últimas páginas foi que pude perceber que seu amor por Tristessa era mais platônico do que real, motivo este que fez-me entender a tamanha idealização de Tristessa, por parte de Jack. Quase um romance romântico, nos estilos do José de Alencar. Tristessa é junkie, decaída, viciada, e mesmo reconhecendo tais defeitos, Jack descreve-a como “a mulher perfeita”, “olhos de pomba”, “instigante”… Ele a idealiza e parece mostrar sofrimento em suas palavras. Definitivamente, seu amor por Tristessa era sofrível, não só pelo amor em si, mas também pela situação em que ambos se encontram, deploráveis, nas margens da sociedade. Ele como norte-americano viajante; ela, como mexicana pobre. E índia.

“Tristessa” tem um quê de cool-depressivo que só realmente quem estiver disposto a deixar a mente fluir durante a leitura conseguirá chegar até o final. Um quebra-cabeças literário.

Tristessa na realidade chamava- se “Esperanza” e era uma prostituta que Jack Kerouac se relacionou. Jack, autor e personagem, não disse que amava Tristessa/ Esperanza e foi tarde demais para salvá- la. Há quem diga que o amor é mais forte que tudo.

Essa história é um triste tratado de como destruir- se com as drogas e, provavelmente, um tratado de arrependimento. Kerouac morreu de um ataque cardíaco aos 47 anos, já bem envelhecido, por causa das drogas.

Desde o começo insondável dos tempos até o futuro infinito, os homens têm amado as mulheres sem lhes dizerem (…) (p.61)

Texto e Imagem: Eduardo Sousa

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