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Pensamentos iam e vinham naquela cabeça de cabelos ralos ruivos. Pensamentos sobre o mundo, sobre si mesmo, sobre o outro, queria conhecer a divindade do encontro consigo próprio, mas nunca conseguira isso, sempre que tentava, dava errado, remava remava remava e morria na praia, fazendo jus àquele  velho e horripilante clichê.  O azul, essa cor ora fria, ora quente, era a sua preferida, tanto é que sua casa, rodeada de azuis, chamava atenção naquela rua de gigantes arranhas-céus, de casas cinzas e normais. Estampava a rua com sua cor, com sua vida, mas mesmo assim não tinha descobertas, novidades, nada de novo, tudo do mesmo jeito, no mesmo lugar.

A vida mudaria a partir do momento em que saísse do casulo, mas por via das dúvidas não saíra, gostava do enclausuramento voluntário, do estar sozinho, com seus pensamentos loucos e estratosféricos. Só que a vida pulou, pulou uma semana e o inesperado aconteceu: resolveu sair para comer fora, fazia muito tempo que não colocava o rosto no mundo, a cara no vento, o corpo na noite e dessa vez, fez diferente, foi em rumo a vida, foi e apenas foi. Decidiu comer sushi, queria alguma coisa leve, nada de fast food ou pizza,  queria uma coisa leve, se possível crua, por isso entrou num restaurante e pediu uma prato de  sushi, com bastante shoyo. Fez o pedido ao garçom, explicou que queria o salmão bem cru,  especificou os tipos de sushi, de sua preferência e ficou esperando, pacientemente.

O restaurante valia o que era cobrado pelo prato. Tudo harmônico, a meia luz, as cores vermelhas, os dragões fazendo alusão a cultura japonesa, os casais chamegando, os amigos conversando e a solidão lhe fazendo companhia naquela noite aparentemente romântica. “Não é  porque a noite está me parecendo romântica que é preciso ter alguém para isso ser romântico”, pensou para dentro.

Finalmente seu prato chegou, o cheiro do salmão entrou em suas narinas, o arroz tinha um aspecto bom, mas o salmão não. Provou e odiou, não gostou, se recusou a comer o resto e foi aí que o destino se encarregou de tomar as suas devidas providências. Quis falar com o sushiman que tinha feito o prato, queria saber porque do salmão não estar no ponto e foi então que aconteceu.

Em meio aos sushis, a bolinhas de arroz, de molho shoyo, de dragões japoneses, de casais chatos, de amigos conversando, de meia luz, de noite romântica, entre wasabi,nigiris, uramakis, temakis, bateu o olho no sushiman e puft! Apaixonou-se. Queria ele, queria o seu dom de fazer sushi, queria tudo, correu para dar um beijo no seu amor cru, só que acabou acordando: era um sonho, um mero e simples sonho. O sonho do amor cru, seu amor pelo sushiman.

 

 

 

Texto: Eduardo Sousa | Imagem: Internet