Mesclando pop, reggae, brega (sofrência) e dub, Eduarda Bittencourt, mais conhecida como Duda Beat, lançou em abril de 2018, o seu álbum de estreia na música “Sinto Muito”, com 11 faixas: “Anicca”, “Bédi Beat”, “Bixinho”, “Pro Mundo Ouvir”, “Parece Pouco”, “Back to Bad”, “Derretendo”, ‘Ninguém Dança”, “Egoísta”, “Bolo de Rolo” e “Todo Carinho”.  Desde o seu lançamento o disco vem ganhando uma legião de fãs que se identifica com toda essa “sofrência pop” de Duda Beat e suas letras metamorfósicas. Seu álbum possui um elo em todas as faixas: o amor. Seja a falta dele, seja a sua procura por um amor sólido, não líquido, tema que a cantora e compositora recifense trata e critica nas suas canções. Após um retiro espiritual, a diva recifense voltou decidida a se tornar de fato uma cantora e então começou a saga de dois anos de produção do seu disco. Hoje, ela já está de olho no futuro e prevê para 2019 o lançamento de alguns singles do seu próximo álbum.

No último sábado (19), durante a sua breve passagem por Fortaleza, dentro da programação das “Férias na PI”, batemos um papo bem agradável com Duda Beat, que nos recebeu super carismática, há poucos minutos de sair do hotel pra ir aquecer a voz e subir no grande palco na Praia dos Crush. Dona de um sotaque maravilhoso, Duda falou sobre a efemeridade e liquidez dos relacionamentos, redes sociais, depressão e claro, o seu amor pela música. Confira abaixo a entrevista na íntegra, com fotos de Pâmela Cariri.

ENTRE ASPAS – O seu contato com a música começou na adolescência, com a sua banda na igreja e depois você foi para o Rio de Janeiro tentar o vestibular de Medicina e acabou fazendo Ciências Políticas. Daí  concluiu CP e nesse tempo que esteve no Rio conheceu uma galera da música, como Castello Branco, Letrux etc. Em 2018 você lançou o aclamadíssimo álbum “Sinto Muito”. Como foi toda essa experiência, se descobrindo como cantora e compositora, até de fato o lançamento do seu trabalho no ano passado? 

DUDA BEAT Olha, assim, pensando em termo de experiência eu fui vivendo as coisas que foram acontecendo na minha vida, cantar era uma coisa que eu amava desde criança, era uma coisa que já estava dentro de mim, mas eu dei um enrustida nisso pra viver o outro sonho da Medicina que eu não consegui, né? E no meio do processo eu acabei entrando em Ciências Políticas, me formei nisso, sou apaixonada por isso, mas no fundo eu sempre quis ser cantora, então acabei me descobrindo depois de um retiro que eu fiquei em silêncio por dez dias, literalmente em silêncio, dez dias sem falar nada, só meditando, limpando a mente pra me resolver, eu estava num momento muito triste da minha vida, gostava dos caras que não queriam nada comigo, eram desilusões atrás de desilusões, tanto na vida profissional, quanto no meu campo amoroso. Acabei indo lá, abrindo espaço na minha mente pra realizar esse meu sonho. Quando voltei, voltei totalmente decidida do que eu queria, daí procurei Tomas Troia (produtor do disco), que era meu amigo já de infância, e ele embarcou nessa comigo, ele e todas as pessoas que estão envolvidas nesse disco aí.

ENTRE ASPAS – O “Sinto Muito” possui um elo em todas as suas faixas, que é o amor (seja a falta dele, sejam as bads de relacionamento etc). Como foi pra você colocar isso pra fora, tornar essa dor em algo concreto? Já que estamos falando de dores, desilusões, tristezas, foi um processo doloroso?

DUDA BEAT – Foi muito doloroso porque em vários momentos eu precisei revisitar as minhas dores pra poder compor. Precisei revisitar momentos da minha vida, então foi doloroso com certeza, mas ao mesmo tempo foi uma terapia, né? A terapia dói, mas ajuda a gente, né? Foi uma transformação pra mim, foi um ato de coragem por eu ter transformado tudo o que eu sentia e expor isso pro mundo, da forma que eu expus, através de canções. Então eu transformei a minha dor em algo concreto que me tornou uma pessoa orgulhosa de mim mesma. Eu brinco que eu fiz esse meu disco pra me sentir respeitada, eu estava com autoestima muito baixa, eu precisava fazer isso por mim. Foi uma válvula de escape, porque é muito triste você viver uma vida onde você não é protagonista da sua vida e em todos os relacionamentos que eu entrava de cabeça, eu estava um pouco nessa, de sempre botar em primeiro plano pessoas que não me queriam, ou a Medicina que eu nunca consegui entrar. Então foi uma solução de problemas e ao mesmo tempo, no final das contas, acabei ajudando um monte de gente aí, que se identifica com o meu disco, que diz pra mim sempre de como o disco ajudou essas pessoas a transformarem as suas vidas também.

ENTRE ASPAS – Vivemos em tempos loucos, onde a tecnologia pauta a nossa vida, esse lance de amores rápidos, amizades, likes, looks, textões, hastags. Como você lida com o público na internet, como é a sua relação com os haters? Você responde ou você faz a egípcia? Como é a Duda Beat nas mídias digitais? 

DUDA BEAT – Então, muito boa essa pergunta (risos). Eu acabo respondendo sim, porque, enfim me toca, ainda mais quando sai alguma coisa injusta sobre mim, eu sou muito libriana, não consigo ficar calada. Eu tento responder todo mundo, eu até digo e penso que meus fãs não são meus fãs, são meus amigos, sabe? Sempre que eu puder responder eles, eu vou. Às vezes chega muita mensagem e eu não consigo responder todo mundo, mas eu sempre tento dar atenção às pessoas que curtem o meu trabalho, que falam bem ou que falam mal de mim, eu tento pedir desculpas se ofendi, então é uma preocupação minha tratar todos bens, porque eu quero que as pessoas se sintam abraçadas por mim.

ENTRE ASPAS – E o que você acha das relações nessa modernidade que vivemos, com o mundo online/virtual, os amores e as relações estão mais supérfluas?

DUDA BEAT – Totalmente, líquidas, né? O Bauman já criticava isso e é uma coisa que está muito presente no meu trabalho, eu não sei lidar muito com isso, eu sou de uma geração anterior, parece que não, mas eu tenho 31 anos e eu me envolvo emocionalmente, eu gosto desse amor que é pra sempre, eu sou uma pessoa muito romântica, então eu até brinco que desde quando inventaram essa coisa de “ficar”, fica aqui, fica lá e no final de contas não fica com ninguém, né isso? Pra mim é muita solidão, com certeza a internet ajuda nessa globalização de sentimentos e nessa liquidez deles.

ENTRE ASPAS – Pra finalizar Duda, gostaria que você deixasse uma mensagem bem positiva, uma coisa good vibes pra todos os leitores, pras pessoas que estão passando por tempos sombrios, seja por conta dessa liquidez, de ansiedade, depressão.

DUDA BEAT – Depressão não é brincadeira, depressão é doença. Eu já estive em depressão, procurei um terapeuta, foi muito importante pra mim, é muito importante a gente falar com uma pessoa que não convive com a gente, não só pra não saturar os nossos amigos com os nossos problemas, mas uma pessoa que ver a situação de fora, ela enxerga melhor. Então pra mim foi extremamente importante o meu terapeuta nesse processo, e se tem uma coisa que ele me ensinou foi a transformar o que eu sentia em alguma coisa pra mim, então a minha dica é que você transforme a sua dor em alguma coisa pra você, seja ir correr na praia, seja escrever um livro, seja fazer um disco. O mais importante é viver, eu acho importante viver esse luto mas depois você precisa pegar ele e transformar isso numa coisa que lhe empodere. Pra acordar, pra falar assim: opa, agora sou eu, eu tô aqui, tenho que tomar rédeas da minha vida de novo. Respirar fundo e ir à luta nas coisas que a gente quer, porque tudo o que a gente quer a gente consegue. É isso.

“É importante viver esse luto, mas depois você precisa pegar ele e transformar isso numa coisa que lhe empodere” 

“Com certeza a internet ajuda nessa globalização de sentimentos e nessa liquidez deles”

 

 

No final, claro, tiramos umas fotinhas e descemos o elevador juntxs e Duda seguiu para fazer um lindo show na Praia dos Crush. Ahhhhh, ela prometeu que ainda esse ano volta em Fortaleza. O que nos resta é aguardar!

 

 

Entrevista e produção: Eduardo Sousa