Por: Dr. Gil Lúcio

É considerada doença crônica aquela que resiste a três meses de tratamento e, mesmo assim, não larga do pé de seu portador.  A ONU acaba de lançar uma campanha mundial contra as doenças crônicas não transmissíveis e a presidente Dilma defendeu em Nova York a quebra de patentes de medicamentos para tratá-las.

As doenças crônicas matam anualmente no mundo 36 milhões de pessoas e entre elas 1,5 milhão de brasileiros.  De cada 100 vítimas dessas doenças,  48 morrem devido a problemas cardiovasculares, 21 são vencidas pelo câncer, 12 por doenças respiratórias, 3 por diabetes e 16 por diversas outras causas, incluindo obesidade. Entre as soluções propostas pela ONU para combater as doenças crônicas se destacam a vacina contra a hepatite (combate de câncer do fígado) e HPV (combate câncer do colo do útero) e o uso de medicamentos para evitar os infartos do coração e dos AVCs (derrame de sangue no cérebro).  A ONU também recomenda campanha para ensinar a população a praticar esportes e reduzir o consumo de sal,  além de evitar o consumo de drogas e cigarro.

Estima-se em 50 milhões (um em cada quatro) o número de brasileiros portadores de doenças. Mas como explicar essa explosão das doenças crônicas? Boa parte dessas doenças aparece com força total depois dos 40 anos e, há quatro décadas, a maioria já teria morrido antes dessa idade. Nesse tempo, dobramos a expectativa de vida e atingimos o começo da era da vida estendida. Nos laboratórios já temos tecnologia para multiplicar o tempo de vida de alguns animais por mais dez vezes e a humanidade caminha a passo acelerado nessa direção.

Porém, a biologia cobra o seu preço, nos tornando mais vulneráveis às doenças crônicas. É claro que às vezes o destino reserva esse ataque, inclusive, para algumas crianças e adolescentes, mas o fato é que quanto mais vivemos, mais susceptíveis nos tornamos às doenças crônicas.

Os nossos dirigentes, inclusive a ONU, precisam saber que não é por falta de medicamentos que existe essa verdadeira epidemia. Nunca antes na história da humanidade se consumiu tanto medicamento. Nesse quesito, o Brasil já ultrapassou há muito os limites da irresponsabilidade. São mais de um bilhão de consultas médicas, meio bilhão de exames e toneladas de medicamentos por ano, apenas nos serviços prestados pelo SUS, uma cobertura três vezes maior do que a praticada nos países ricos. No entanto, as doenças crônicas crescem a cada ano.

O fato é que medicamentos e exames não necessariamente previnem ou tratam as doenças crônicas, as quais são causadas por inúmeros fatores. Cada um dos 15 profissionais regulamentados da saúde é treinado para identificar, prevenir e tratar alguns desses fatores. Seriam necessários 60 anos para graduar um profissional capaz de exercer todas essas funções, isso sem falar do treinamento em pós-graduação e residência.

Lá fora os governos gastam uma fortuna para convencer os jovens a seguir as carreiras da saúde. Aqui, a presidente Dilma possui ao seu dispor um exército de 3,5 milhões de profissionais da saúde, muitos dos quais treinados com recursos próprios. O segredo do presente e do futuro é garantir a vida prolongada com saúde e bem-estar. O Ministro da Saúde e a Presidente da República precisam entender que o melhor remédio é treinar e colocar boa parte dos profissionais da saúde para atuar em equipes multiprofissionais e ir até o cidadão levar a boa nova do século XXI: Os bons hábitos de saúde que irão ajudar a humanidade a viver uma vida prolongada, mas com saúde e bem-estar. No lugar de esperar a chegada das doenças crônicas e com ela as constantes hospitalizações a custos cada vez mais proibitivos, o Estado deve surpreender o inimigo e atacar o mal antes que ele tome conta de um corpo saudável.

Porém, o Estado não pode continuar com a política de matar a galinha dos ovos de ouro.  O SUS precisa parar imediatamente com a política de afronta à dignidade dos profissionais da saúde. Pagar 6,4 reais por um atendimento de fisioterapia ou de terapia ocupacional não é apenas imoral, mas faz muito mal à saúde da população. Ao afrontar a dignidade do profissional, representada por uma remuneração justa e garantida na constituição federal, o SUS obriga os serviços de saúde a praticarem o atendimento em grupo. Resultado: a qualidade e eficácia dos tratamentos perdem a validade, quando não agravam ainda mais as doenças e disfunções.

Acredite; empregar e remunerar dignamente os profissionais da saúde e colocar suas virtudes a serviço da vida custará muito menos ao Estado do que continuar alimentando a indústria da doença. De quebra o Estado ajudará a população a viver melhor e a ser mais produtiva.

Fonte: Gil Lúcio Almeida, FT, MC, PhD, Pós-doc é cientista, escritor e presidente do Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo (CREFITOSP).

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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