Com mais de 30 anos dedicados ao desenvolvimento profissional dos  fisioterapeutas, a professora Amélia Pasqual Marques, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), foi premiada internacionalmente por sua contribuição ao ensino da fisioterapia no Brasil e a difusão de conhecimento na área pelo mundo.

O prêmio The International Service Award foi entregue no último evento da World Confederation for Physical Therapy (WCPT), que aconteceu em junho deste ano em Amsterdã, na Holanda. No encontro, que acontece a cada quatro anos, a professora foi a única representante da América Latina a receber tal homenagem. Segundo Amélia, que acompanha o evento há vários anos, o reconhecimento de um latino-americano  “é algo que raramente acontece”.

Trajetória

Amélia formou-se em fisioterapia pela USP em 1973 e em 1984 prestou concurso, para se tornar uma das primeiras docentes “oficiais” do departamento, participando, inclusive, da elaboração do currículo completo do curso. Antes da década de 1980 havia poucas aulas específicas de fisioterapia e, por isso, poucos professores especializados para tais disciplinas.

Seu mestrado, em que tratou da educação do indivíduo especial, foi defendido em 1990, e o doutorado, uma pesquisa sobre psicologia experimental, em 1995. De lá para cá, formou inúmeros mestres e doutores, estando sempre com uma vasta fila de espera para orientar alunos. Sua linha de pesquisa atual aborda a fibromialgia – síndrome que causa uma condição dolorosa crônica, incluindo dor, fadiga e distúrbios do sono; doenças reumáticas; e o alongamento muscular.

Além de ter diversos livros utilizados na graduação, como Cadeias Musculares – Um Programa para Ensinar Avaliação Fisioterapêutica Global (2005, Editora Manole), Amélia ajudou a fundar a Associação Paulista de Fisioterapia e depois a Associação Brasileira de Fisioterapia, sempre ocupando altos cargos nas entidades. Em 1997 foi chamada para integrar uma comissão no Ministério de Educação e Cultura (MEC) a fim de discutir as diretrizes curriculares dos cursos de fisioterapia em todo o Brasil, que foram aprovadas cinco anos depois. A docente permaneceu ligada ao MEC até 2004.

Amélia pôde acompanhar as diversas etapas do desenvolvimento da fisioterapia no Brasil.  “Em 1973 eram apenas cinco cursos no Brasil, e hoje são quase 400; em 1973 éramos perto de 500 profissionais e hoje, 150 mil”, conta. Infelizmente, de acordo com a professora, nem todos os cursos têm a mesma qualidade. Mas ela aponta como razão para comemorar a expansão do curso para lugares menos acessíveis, como Quari, no interior do Amazonas – local onde só se chega após várias horas de barco.

Embora a fisioterapia esteja consolidada no Brasil, nossos vizinhos latino-americanos têm dificuldades na difusão da profissão. Amélia indica um caminho possível em três passos: “Falta autonomia para o paciente procurar o profissional. Lá fora é preciso passar por um clínico geral para depois poder ir ao fisioterapeuta. É necessário incentivo à pesquisa, pois a divulgação só vem com essa visibilidade que a pesquisa dá, e é preciso, também, mudar a visão sobre o que é a fisioterapia. Não é só reabilitação, mas promoção e prevenção também”, afirma a docente. O Brasil é o único país a ter pós-graduação nesta área na região – são 13 programas de especialização.

“A fisioterapia mudou para melhor, e eu vejo com alegria este crescimento, que é bom para o profissional e bom para a população, uma vez que ajudamos a proporcionar melhor qualidade de vida.”

Com uma agenda nacional e internacional cheia, Amélia comenta o apoio recebido de dentro da FMUSP. “ A Universidade incentiva bastante nossa participação nos eventos e a FMUSP facilita a nossa saída”, afirma a docente. Ainda segundo Amélia, “a USP estimula e vê com bons olhos as parcerias com Universidades do exterior, o que é mais importante do que dinheiro”.

WCPT e a premiação

A docente é a líder na América do Sul da WCPT, única organização a representar os fisioterapeutas em nível mundial, cujos objetivos são fornecer recursos para pesquisa, apoiar a o intercâmbio de informação e promover a melhora da saúde global através da fisioterapia.

O Congresso em que ocorreu a homenagem contou com a participação de mais de cinco mil especialistas, e o Brasil teve cerca de 240 representantes presentes, sendo o sexto país com maior número de inscritos. O trabalho de Amélia concorreu ao prêmio através da indicação dos representantes da América Latina. Uma seleção prévia foi feita em âmbito continental e, na fase seguinte, o nome de Amelia superou os de profissionais europeus e americanos.

De acordo com a  entidade, Amelia foi premiada pela extensa carreira dedicada ao ensino da fisioterapia no Brasil e pela divulgação desta ciência em todo o mundo, tendo contribuído para cinco das mais importantes revistas especializadas no país. “[O trabalho de Amelia Marques] contribuiu na defesa de uma educação de qualidade para os fisioterapeutas e para a inclusão de programas de pós-graduação”, destaca o site da organização.

O próximo congresso da WCPT, que acontece em 2015, ainda não tem data confirmada, mas o local será Cingapura, cidade-estado do sudeste asiático. Antes, porém, em 2012, haverá um congresso na Venezuela, apoiado pela Confederação Latino-americana de Fisioterapia. Amélia faz parte da comissão científica do evento.

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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