Assim como qualquer hábito preservado no lazer, a leitura é uma escolha. A seleção é feita na livraria, na biblioteca da escola e até na estante do amigo. Os chamados clubes do livro, que viraram febre nos anos 1980, são uma opção na hora de definir a próxima narrativa a acompanhar.

Quem cresceu na época deve lembrar do Círculo do Livro, popular parceria das editoras Abril e Bertelsmann. A sociedade era bem definida – só entrava quem fosse indicado por algum sócio. Durante os anos 80, o Círculo chegou a divulgar o número de 800 mil afiliados que recebiam o catálogo e os livros escolhidos pelos Correios. Infelizmente, o serviço declinou com a queda das vendas e foi encerrado no fim da década de 90.

Nos últimos anos, os clubes de compras retornaram ao mercado com propostas diferenciadas. Leiturinha, o primeiro clube de assinantes de livros infantis do Brasil, já chega a mais de 5 mil crianças. O clube oferece as opções de livros físico e digital.

Leitura como experiência

Imagem: Divulgação

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Em 2013, três estudantes de administração resolveram apostar na paixão por livros e a vontade de empreender. Assim surgiu TAG Livros, que entrou no mercado em agosto do ano passado. Os sócios Arthur Dambros (23), Gustavo Lembert (23) e Tomás Susin dos Santos (25), contam que sugerir livros já era algo comum dentre as amizades. “Decidimos tornar esse sistema de indicação em um clube, mas que não se resumisse a isso”, lembra Tomás. “Queríamos investir, também, na experiência de leitura”.

O clube já conta com cerca de 550 associados, chegando a 24 estados brasileiros – foram duzentos novos assinantes só nos últimos três meses. O crescimento se explica na proposta do projeto. Os livros são escolhidos por uma espécie de curadoria, feita por pessoas que são referência no cenário intelectual. Nomes como Frei Betto, Luiz Felipe Pondé e Mario Prata já indicaram seus livros de cabeceira.

A caixinha, que chega mensalmente pelos Correios, vem com o livro, mimo temático e uma revista com informações complementares. Ah, e tem mais um detalhe: o livro é surpresa!

Luciana Trojahn, 49, diz que assinou o TAG pela possibilidade de ter em sua própria biblioteca, livros de autores que não conhecia e títulos que não compraria por escolha própria. “Percebi que sempre buscava livros que me eram familiares, perdendo a riqueza de perspectiva de autores e estilos diferentes”. A bancária, que foi assinante do extinto Clube do Livro, conta que a “surpresa” na hora de abrir a caixa e a “delicadeza nos detalhes” tornam a experiência ainda melhor.

Pergunta do leitor

Por se tratar de um clube mensal, essa periodicidade não atrapalha na escolha de livros maiores e mais densos? (Rodrigo Mendes, 23, advogado. De Fortaleza, CE)

Faz alguns dias, recebemos a mensagem de uma associada chamada Denise. Ela disse o seguinte: “Ainda não chegou minha caixinha de dose mensal de paz, desassossego e alienação seletiva consciente. Acho que a TAG tem que mudar a periodicidade das remessas para quinzenal. Não! Semanal.” Claro que aumentar a frequência seria um exagero, mas acreditamos que o envio mensal esteja sendo adequado aos nossos associados – isso representa doze livros por ano. Se você colocá-los lado a lado, verá que não é tanta coisa assim. Além do mais, um dos grandes propósitos da TAG é a construção de uma biblioteca pessoal de qualidade. Não somos um check list de leituras obrigatórias. Se não tiver tempo para ler, ou quiser dar preferência ao outras leituras, não há problemas. O livro permanecerá em sua biblioteca até que o momento dele chegue!” (Arthur Dambros)

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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