“Vá procurar sua turma”, se antes era um desaforo, virou um bom conselho nos dias atuais. Quem nunca esteve em um grupo no qual os trabalhos pararam de progredir? Ou entre pessoas com as quais não mais se identifica?

Falar a mesma língua, ter sintonia de pensamento, sentir o propósito alinhado é o que buscam cada vez mais as pessoas que querem ter prosperidade na vida. Mas acima de tudo, é o que buscam aqueles que querem sentido para o que fazem, seja no lado profissional ou no pessoal.

“Procurar a sua turma” faz com que as sincronicidades aconteçam. De repente, começam a chegar sinais de que estamos no caminho certo. Caem no colo informações conectadas com novos projetos e, como mágica, tudo ao redor parece avançar na incrível coincidência.

Quando estamos “enturmados”, deixamos de fazer aquele esforço enorme (às vezes imperceptível) para transmitir ideias e nos fazer entender. A comunicação ocorre mais fácil, fluida e complementar. Parece até telepatia. Sabe quando alguém ia dizer justamente o que você estava pensando? Fulano completa a frase que você começou… Sicrano fala de um assunto que você tinha lido horas antes…

As peças de um grande quebra cabeça parecem se juntar com rapidez e a gente acha tudo insano, fica abismado. O todo vai ganhando corpo até melhor do que o imaginado, e constatamos: Uau! Aonde isso vai levar?! Dá medo? Talvez. Mas, essencialmente, admiração.

A questão é que “procurar a sua turma”, às vezes, leva a desapegos de uma outra turma que, até dia desses, fazia o maior sentido para nós. Só que hoje não faz mais e isso traz insegurança. Pode despertar tristeza e até um sentimento de culpa. Poxa, éramos tão unidos! Funcionava tão bem! Só que quando a gente se depara em um novo lugar que conecta mais forte, a sensação de incompreensão desaparece.

Se nos permitirmos abrir esta nova porta, pode ser surpreendente. O remar contra a maré vai virando coisa do passado e toda a energia agora parece canalizada de forma mais proveitosa. Ufa, um alívio! É quando percebemos os dias a pleno vapor. Renovam-se o fôlego e a vontade de desbravar o novo, mesmo que pareça assustador.

No entanto, agora não estamos sós, mas acompanhados da nova turma, essa outra que se juntou sem planos aparentes. Antes parecia que não estávamos sozinhos. Apenas parecia. Com o esvaziamento do propósito, a turma passada já foi pulando do barco sem a gente perceber. Ou até nós mesmos podemos ter entregue os pontos antes do fim, sem nos dar conta. Não há culpados. Há transparência e confiança, e quando é menos do que isso, não vale mais a pena. A gente estava à deriva e não sabia. Só sentíamos aquele tremendo esforço para realizar qualquer mínima ação, com resultados frustrantes.

Bom seria se, chegada a hora da mudança, surgisse um aviso nos alertando para outra direção. Mas não funciona assim. Em geral, a gente pena e insiste um bocado em conservar o conhecido, em vez de dar adeus e agradecer o que passou.

Penso que na vida, de tempos em tempos, ajustamos o rumo do barco. É quando a tripulação dá uma boa variada e a turma muda. A gente parte para uma nova viagem, sem rota definida, confiando que os ventos sopram na direção que o novo grupo se engajou.
A cada parada pode ser que suba mais alguém. Aqui e ali aparecem mais talentos.

Avistamos uma terra distante, às vezes miragem. Pode ser também que não haja mais terra, e agora? A gente também não sabe. Há que se ir aprumando a embarcação. O porto final permanece uma incógnita, mas a turma está lá para descobrirmos juntos.

Enquanto isso, a gente iça as velas, gira o leme e muda de capitão sempre que alguém apontar o caminho com mais lucidez. Nesse novo barco não há mapas, os caminhos são desenhados em colaboração. Mas existe sim uma turma cheia de entusiasmo para navegar em uma vida com mais propósito.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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