XII Bienal Internacional do Livro do Ceará, no Centro de Eventos (Foto: Tatiana Fortes/O POVO)

Saraus, clubes de leitura, bienais, lançamentos, encontros. O Leituras da Bel discute a ebulição de eventos literários que Fortaleza vive nos últimos meses

Desde a Bienal do Livro, em abril, Fortaleza abriu os olhos para a ebulição de eventos literários que ocupam grandes centros culturais ou pequenos espaços da Cidade. São saraus de poesia, clubes de leitura, lançamentos de obras e encontros com os escritores. Guarani Oliveira, proprietário da Livraria Lamarca, no Benfica, acredita em duas vertentes dessa efervescência: o fomento ao mercado editorial e o incentivo aos novos leitores. Com mais eventos no circuito, há mais pessoas vendendo e comprando, mais pessoas descobrindo o prazer da leitura, mais contato do público com a arte.
“Quando acontece um evento, pequeno ou grande, nós apresentamos a leitura para um número de pessoas que, muitas vezes, não encontra a literatura em outros locais”, aponta Guarani, que, nos 21 metros quadrados da Lamarca, promove encontros entre leitores e conversas com autores. O maior evento do qual a livraria já participou foi a XII Bienal Internacional do Livro do Ceará. Foi ao longo dos dez dias de Bienal que o público começou a perceber a potência da Literatura na Cidade.

Imagem de Sarau promovido pelo CCBNB. (Foto: reprodução/facebbok)

Mileide Flores – titular da coordenação de Livros, Leitura, Literatura e Biblioteca, da Secretaria da Cultura do Estado (Secult) – ressalta que a Bienal foi a culminância de um processo construído por várias mãos. O ponto chave, acredita a livreira, é o contato com os escritores. “Ele, agora, é o principal agente na formação do leitor. Antes, era escrever o texto e alguém ler. Hoje, o autor atua como mediador da própria leitura. Claro, há personagens como a editora, o agente literário, o livreiro… Mas esse giro dos autores dentro dos espaços, das escolas, é essencial”, elucida.

Para além da Bienal, acredita Mileide, é necessário pensar em ações e eventos de literatura descentralizadas, “que sejam feitas principalmente entre uma Bienal e outra, pois não podemos jogar todas as fichas em um único evento. Ele impacta e mexe com o Estado, mas temos que desenvolver os territórios”. Durante a Bienal aconteceu um debate sobre o Plano Estadual do Livro Leitura, Literatura e Bibliotecas, documento que será encaminhado para a Assembleia Legislativa este ano e deve transformar as ações da área em política estruturada de governo. “Não adianta uma gestão fazer e a outra não. Temos que criar mecanismos de continuidade”, sintetiza Mileide Flores.

Livraria Saraiva (Foto: Edimar Soares, em 16/08/2011)

Apesar do visível crescimento – atesta Nathan Matos, fundador das editoras Substânsia e Moinhos – o circuito de eventos literários em Fortaleza ainda está aquém de centros como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. “Não sei se a gente pode chamar de ‘boom’ literário, na verdade o que anda acontecendo são encontros, pequenas feiras, aqui e ali distante, mas que parece que agora a mídia e as próprias pessoas de Fortaleza começam a olhar com um cuidado maior. Se a gente parar pra pensar e comparar como estávamos há cinco anos e agora, realmente a gente pode dizer que há, está tendo, um ‘boom’”, explica Nathan, que é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para ele, é necessário abrir os olhos para as ações descentralizadas, como os clubes de leitura e saraus de poesia, que avançam em territórios e temáticas. “Parece que o cidadão fortalezense vê apenas o Dragão do Mar como um reduto da nossa cultura, o que é uma tristeza. Porque temos alguns aparelhos culturais que poderiam ser mais bem vistos pela prefeitura, pelo governo, pela população, mas parece que isso acaba ficando de lado”. Outro ponto, explica Nathan, é expandir os limites dos eventos literários, descobrindo territórios para além da Aldeota. “É necessário invadir as escolas, é necessário que os novos autores se disponham a ir visitá-las, dar palestras, pequenos cursos, tudo isso vai ajudar mais ainda há termos um público leitor e, mais do que isso, a manter a vida pulsante literária, fazendo o ‘boom’ ser constante”, finaliza.

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Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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