O colunista do O POVO, Érico Firmou, publicou neste domingo em seu Menu Político, a seguine nota:
«Batismo radical
Sabe o que há de mais à esquerda na gestão Luizianne Lins (PT)? Até agora, é o batismo de locais públicos. O Centro Urbano de Cultura Arte, Ciência e Esporte (Cuca) da Barra do Ceará, que ganhou o nome de Che Guevara, é o mais conhecido, mas não o primeiro exemplo. Há três anos, a Prefeitura batizou com o nome de Rosa Luxemburgo, revolucionária polonesa e teórica do socialismo, o primeiro conjunto habitacional que construiu. Não é nada, não é nada… Não é nada mesmo.»
Por quê?
Rosa de Luxemburgo foi uma revolucionária em tempo integral, que mantinha severas divergências com o Partido Comunista da URSS. Pouquíssimas pessoas em Fortaleza devem ter ouvido falar dela. Com certeza, a cearense Rosa da Fonseca deve ser mais conhecida que a sua homônima polonesa. Ao contrário do outro homenageado pela Prefeitura, o médico argentino-cubano Che Guevara, reverenciado pelas esquerdas, tornou-se ícone pop mundial.
Mas isso não teria importância. Não se homenageia apenas pessoas conhecidas, mas aquelas que fizeram algo de importante para melhorar o mundo e a humanidade, sendo elas daqui ou dalhures – e essa deve ser a compreensão dos administradores municipais quando prestam tais homenagens.
Mas a pergunta é: por que a Prefeitura prefere homenagearos “heróis” da esquerda internacional e não faz o mesmo com figuras da esquerda brasileira?
Tenho cá comigo uma teoria: avalio que os administradores municipais temem que a homenagem a um revolucionário brasileiro, que pegou em armas contra a ditadura militar, digamos – um Carlos Lamarca, Carlos Marighela, Bergson Gurjão [cearense], provocaria uma gritaria da direita que a Prefeitura não parece disposta a enfrentar.
Da distante Rosa Luxemburgo, ninguém nem mesmo comentou a homenagem [tirante agora o Érico Firmo]; quanto ao assimilável Che Guevara, somente o indefectível Themístocles de Castro e Silva lembrou-se de protestar. E, mesmo assim, sem derramar a famosa bile que caracteriza seus escritos. Queixou-se apenas que se homenageou um médico que resolveu trocar a sua profissão pelas armas.
A prefeita disse que os próximos Cucas terão nome de brasileiros. Vamos ver qual será a direção que as homenagens vão trilhar: neutra, centro ou esquerda [em todos os matizes], já que os “heróis” da direita, certamente, não terão vez no mandato de Luizianne Lins.
[Isso tirante a provocação que faz Érico Firmo, ao dizer que aquilo de “mais à esquerda” na administração petista são seus batismos “revolucionários”.]
Em minha opinião esse é daqueles debates que podem até ser irrelevantes, mas que dizem muito sobre os rumos de uma cidade, suas referências, sua simbologia. Acho que o importante para os rumos democráticos e progressstas de Fortaleza é criar formas de gestão que permitam que o povo e a juventude tenham refletidas na sua simbologia a rebeldia de nossa gente. Isso se faz dando o nome de Che Guevara ao primeiro CUCA? Talvez. É pouco? Quase certamente, independente de que nome terá o próximo Centro.
Homenagear Bergson, Jana Barroso, Custódio, Teodoro e outros/as tantos cearenses lutadores e lutadoras de todos os matizes ideológicos que dedicaram a vida a um futuro melhor não elimina a justeza da homenagem ao ‘Che’, mas seria uma boa forma de dotar a cidade de prédios públicos nomeados também com o objetivo de contar nossa história, muitas vezes apagada, deturpada e/ou até apagada.
Li em algum lugar que a vereadora Eliana Gomes propôs a medalha Boticário Ferreira ao Bergson Gurjão, in memorian. Até agora não vi nenhuma viúva da ditadura reclamar e acho que tanto o legislativo quanto o executivo poderiam pegar essa corda para nomear prédios e logradouros públicos pensando na história desses nomes contada na perspectiva dos fortalezenses.