Um dos meus frequentes interlocutores, Marcelo Soares, tentou deixar comentário na postagem “Texto de assessoria de imprensa tem dono?” [abaixo], sem consegui-lo, por algum dos mistérios da informática.

Foi bom, ele mandou-me por e-mail e eu aproveito para transformá-lo em um post, pois levanta questões bastante interessantes a respeito do assunto: Marcelo defende o copyright [direitos autorais] para assessores de imprensa.

Marcelo Soares mantém E você com isso?, no portal da MTV, e Dicas de um fuçador, onde você poderá ver um pouco mais do que é churnalismo, que ele cita em seu texto.

Veja o que escreveu Marcelo Soares:

«Eu acho ótimo que até as assessorias de imprensa questionem o churnalismo [jornalismo mal feito, sem verificação] preguiçoso que se alimenta do trabalho delas e o regurgita especialmente nas notícias de último segundo na internet. Ele é um desserviço ao leitor, e vem crescendo.

Segundo o Nick Davies, no livro “Flat Earth News”, uma pesquisa que ele fez identificou 88% do noticiário dos jornais ingleses tendo origem em releases, de alguma forma. No Brasil, especialmente no online, a coisa pode ser mais grave (afinal, não temos nenhum Guardian, tampouco uma BBC). Alguém precisa expor isso – e são escassas as críticas mais fundamentadas por parte dos jornalistas a esse tipo de malandragem.

Nunca imaginei que a reclamação partiria das assessorias, mas compreendo o motivo – embora não ache que a assinatura seja o ponto mais relevante da controvérsia. Quem chupa release o faz porque custa pouco em dinheiro e neurônio – é só botar um sujeito malpago exercitando os dedos do ctrl, do C e do V, que já se pode pintar papel praticamente de graça com um conteúdo bastante parecido com jornalismo.

Se o motivo do uso dos releases é econômico, é razoável que também seja econômico o argumento contrário. Direitos autorais costumam ser cobrados, enfim. A possibilidade de que esses textos possam ser cobrados seria o único jeito eficaz de coibir essa prática.

Há alguns meses, fui dar palestra sobre ferramentas da Web num encontro dos assessores da Justiça Eleitoral. Também estava lá um editor de um portal nacional. Sua palestra foi em boa parte centrada em como as assessorias poderiam fazer para tornar a vida dos jornalistas do portal mais fácil (basicamente, que tipo de notícia eles copiam sem checar). Os assessores, autores dos releases, vieram abaixo questionando a prática preguiçosa.

Sou um crítico contumaz de práticas ruins das assessorias de imprensa brasileiras. Mas nesse ponto eu acho que eles têm razão.»