Ato 1

O professor Venício A. de Lima é um dos mais importantes estudiosos da mídia na atualidade. Autor de vários livros, escreve frequentemente artigos que são divulgados em portais de crítica à mídia [como o Observatório da Imprensa] e também em alguns sites de “esquerda”, como o Carta Maior.

Concorde-se ou não com o professor reconheça-se a qualidade de seus trabalhos, todos alicerçados em sólida base teórica.

Ato 2

De alguns dias para cá o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem emitindo várias opiniões sobre a mídia. Disse que o trabalho da imprensa não era fiscalizar o governo, mas dar notícias; castigou os colunistas dizendo que eles vêm perdendo a capacidade de formar opinião; e exortou os jornalista a não “interpretarem” os fatos.

Ato 3

Em livro de 2006 “Mídia: crise política e pode no Brasil”, no capítulo “Revisitando as sete teses sobre mídia e política no Brasil”, o professor Venício escreve: “O que está realmente em jogo quando se trata das relações de mídia e política é o processo democrático”.

Pelo que se trata aqui, o mais interessante é a sua terceira tese, na qual ele anota que “a mídia está exercendo várias das funções tradicionais dos partidos políticos”, as seguintes:

? Construir uma agenda pública (agendamento)
? Gerar e transmitir informações políticas
? Fiscalizar ações do governo
? Exercer a crítica das políticas públicas
? Canalizar as demandas da população

E complementa afirmando que “mesmo no Brasil não havendo a tradição partidária consolidada, alguns analistas apontam a ocupação desse espaço pela mídia como uma das causas da crise generalizada dos partidos”.

Em artigo recente, o professor reafirma alguns desses pontos, traça um histórico do surgimento da mídia – que nasceu como imprensa partidária e de opinião – e pergunta se a mídia brasileira não estaria fazendo uma espécie de volta às origens partidárias.

Ato 5

A questão é a seguinte. A linha de raciocínio de Lula é muito parecida com essa para se supor que seja apenas coincidência. Ou Lula anda conversando com o professor Venício; ou está lendo seus livros ou alguém leu e soprou-lhe.

Existe também hipótese – Lula tem poder de análie e compreensão da realidade material e abstrata bem maior do que supõem seus detratores gratuitos ou não -, de o presidente ter chegado às mesmas conclusões pela sua própria experiência.

A minha aposta é que foi uma mistura das várias coisas. Lula conversa com muita gente – é o tipo de pessoa que parece pegar as coisas de ouvido.