Meu artigo semanal, publicado na edição desta quinta-feira, no O POVO.

Os padres e os militares
Plínio Bortolotti

Apesar das reiteradas desculpas, parece que a Igreja Católica pouco aprendeu com o escândalo da pedofilia, que sobre ela se abate.

Alguns religiosos passaram a denunciar uma suposta campanha para desacreditar o catolicismo, e acharam o culpado de sempre: a imprensa. A cartilha é idêntica a de políticos pegos em seus malfeitos. Afinal, se tudo ficasse velado, o problema não existiria, a não ser para as vítimas, obviamente.

Um dos piores argumentos é aquele dizendo ser pequeno o número de padres que abusaram de crianças e adolescentes, em comparação com a quantidade de religiosos na Igreja, como fez esta semana d. Geraldo Majella Agnello, arcebispo de Salvador. Segundo declarações dele, os abusadores são menos de 1% dos 400 mil sacerdotes existentes no mundo.

Visto da maneira como quer o Vaticano, o mesmo argumento poderia ser usado, por exemplo, em relação aos militares que torturaram e mataram oponentes da ditadura brasileira. Foram poucos os criminosos, em relação ao efetivo do Exército. Nem por isso devemos aceitar a situação como menos grave.

Toda instituição, mesmo as que se atribuem santidade, são um resumo do que existe na sociedade humana, de bom e de mau. A diferença é como elas lidam com os integrantes que espezinham seus objetivos, ou, simplesmente, cometem crimes.

O que ofende a consciência não é apenas o abuso em si, mas o encobrimento – comprovado – dos malfeitores.

Até hoje o Exército se opõe à abertura dos arquivos da ditadura, e rejeita a punição aos torturadores. Infelizmente, o Supremo Tribunal Federal (STF), recentemente, confirmou a “anistia” a esses atos covardes.

O Vaticano, até que se descobrisse o que se passava nos desvãos das sacristias, tratava os padres abusadores como se tivessem cometido apenas uma peraltice; transferia-os de diocese, como “castigo”, que era um prêmio aos pedófilos, pois podiam continuar tranquilamente com suas aventuras abjetas.