No ano de 1890 um jovem médico  resolveu fazer uma longa viagem até a ilha de Sacalina, para onde eram mandatos os deportados do grande Império Russo. Ele pretendia juntar material para a sua tese de doutorado.

Sibéria

O médico percorreu a região siberiana andando a pé, montando cavalos e carroças, navegando em balsas e barcos a vapor – demorou dois meses e meio para chegar à ilha, que “pareceu-lhe um inferno”. Percorreu, em condições precárias, mais de 12 mil quilômetros.

Vivendo no meio dos degradados, ele “pôde encontrar as pessoas, ver como viviam e escutar suas histórias” e escreveu uma grande reportagem, cujas lições são atuais até hoje, vistas no livro: “Um bom par de sapatos e um caderno de anotações – Como fazer uma reportagem”.

Anton Tchékhov

O médico que lançou-se à aventura era Anton Tchékhov, que se tornaria um escritor conhecido mundialmente. Para Tchékhov, a medicina e a literatura tinham objetivos comuns (podemos acrescentar também o jornalismo): “A verdade incondicional e honesta”.

Repórter

“O que você diria de um repórter que, por repulsa ou pelo desejo da satisfazer os leitores, descrevesse apenas prefeitos honestos, damas sublimes e ferroviários virtuosos? [seria o mesmo que pedir a um pintor que pinte um árvore] proibindo-o de reproduzir sua casca suja e as folhas amareladas”.

O livro reeditado em 2004 pela editora Martins Fontes, vem com  observações muito precisas de Piero Brunello (professor de história social na Università Ca´Foscari, Veneza), que assina o prefácio e um apêndice sobre Tchékhov. [Os trechos aspeados acima, quando não são citações de Techékhov, são de autoria de Brunelo.]