Meu artigo publicado na edição de 8/2/2012, no O POVO.

Foto de Drawlio Joca, do ensaio "Centro Invisível". Veja mais em http://www.flickr.com/photos/drawliojoca (clique para ampliar)

A justiça perfeita
Plínio Bortolotti

Comecei a ler “A ideia de justiça”, de Amartya Sen. Na introdução ele expõe as linhas gerais do que tratará no livro: “O que nos move […] não é a compreensão de que o mundo é privado de uma justiça completa – coisa que poucos de nós esperamos –, mas a de que à nossa volta existem injustiças claramente remediáveis que queremos eliminar”.

De outro modo: “O objetivo é esclarecer como podemos proceder para enfrentar questões sobre a melhoria da justiça e a remoção da injustiça, em vez de oferecer soluções para questões sobre a natureza da justiça perfeita”.

Lembrei do livro ao ler matéria na Folha de S.Paulo (5/2/2012), na qual, segundo o jornal, o advogado Toninho Pereira, ligado ao PSTU, considera uma vitória o que aconteceu no bairro Pinheirinho (São José dos Campos, SP), por terem eles conseguido “unificar o movimento operário e camponês”. Como se sabe, sob ordem judicial, duas mil famílias foram expulsas do terreno, com violência, pela Polícia Militar. (Brutalidade injustificável sob qualquer aspecto.)

Segundo a reportagem, uma empresa especializada em regularização fundiária teria procurado o PSTU (que lidera os moradores ou parte deles), propondo acordo em que os lotes seriam comprados por prestações até R$ 100 mensais. A proposta teria sido rejeitada. “Nosso papel é impulsionar a luta do povo, não entregá-lo para a especulação imobiliária”, disse Zé Maria, presidente nacional do PSTU.

Pelo jeito, o PSTU é adepto da “justiça perfeita”, coisa que nos prometem as religiões, no céu, ou adeptos de certas teorias políticas que ofertam o paraíso na terra. Terrenos férteis para fanáticos, que descambam para “guerras santas”, ou para ditaduras, tipo Coreia do Norte.

Portanto, identificam-se duas correntes cantando vitória no caso Pinheirinho: o governo de São Paulo (com seus adeptos) e os militantes do PSTU. Os moradores, para ambos, são mero detalhe: para serem removidos com um estorvo ou para serem usados como instrumento de interesse partidário.