Meu artigo publicado na edição de hoje (8/3/2012) no O POVO.
Palavras
Plínio Bortolotti
“Os organizadores [da Copa do Mundo] precisam levar um pontapé na bunda.” (Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, exigindo mais pressa nos preparativos que estão sendo feitos no Brasil).
“Faço isso [a exposição dos problemas do Judiciário] em prol da magistratura séria e decente e que não pode ser confundida com meia dúzia de vagabundos que estão infiltrados na magistratura.” (Ministra Eliane Calmon, corregedora nacional da Justiça)
O que essas duas declarações, de personagens tão díspares, têm em comum? Resposta: uma linguagem que pais mais cuidadosos não permitiriam aos seus filhos, pois desqualifica quem a usa.
Sobre a ministra Eliana Calmon pode-se, com boa vontade, dar-lhe um desconto. Ela tenta sustentar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), uma instituição nova (e fundamental para a transparência do Judiciário, portanto, para a democracia), sob pressão intensa de sua própria corporação. É natural em organismos jovens a tentativa de firmar sua própria identidade confrontando aqueles que se consideram símbolos da autoridade impenetrável.
Eliana Calmon tem amplo apoio da sociedade para levar a cabo o seu trabalho, mas faria melhor se calibrasse a sua linguagem ao nível da importância de sua difícil tarefa.
Quanto ao secretário-geral da Federação Internacional de Futebol, não é o caso de uma entidade que busca se firmar – a Fifa é antiga, bem estabelecida, e com dirigentes ladinos. Muito espertos por sinal, a se considerar o livro “Jogo sujo”, do jornalista britânico Andrew Jennings, no qual ele narra casos envolvendo trapaça, corrupção, malas de dinheiro e exercício de poder em proveito dos próprios dirigentes da entidade.
É certo que a Fifa é uma entidade privada, como gostam de repetir seus diretores. Mas isso não quer dizer que ela se pode pôr acima da lei, como quer fazer no Brasil – e nem que seus dirigentes estejam liberados das normas de boa educação e da boa conduta.
Veja o poema “Pisando na Bola”, que acompanhou a ilustração de Hélio Rola.
Pisando na Bola
Hélio Rôla
… O poder tem cancha
É roliço
Perfeito
Sem arestas
A bola rola
Sobe à cabeça
Morre no peito
Desce no gramado
Mas não chuta
Somente dá passes errados
pra fora e escanteio
Como não tem jogo-de-corpo
Nem peito-de-pé
Faz gol com a mão
na dialética
dança do futebol
Penalty?
(Consultemos a FIFA)
Caro Plínio, bem interessante o artigo. Só um detalhe: o nome da ministra é Eliana (com “a”) e não Eliane, conforme grafado no texto. Abraço!
Agradeço,
Vou corrigir no blog, no impresso, fica sem jeito.
Abraço,
Plínio
Plinio, falei com dois professores de Francês e eles rebateram a desculpa do Valcke de que a tradução do Francês para o Português não foi fiel, etc.
Os dois professores me disseram que a frase na França é empregada num tom depreciativo.
Veja a explicação de um dos professores: ” “Donner un coup de pied aux fesses” é uma expressão que expressa desprezo e cujo objectivo é humilhar. Emprega-se muitas vezes para incentivar alguém a trabalhar ou a entender porque é preguiçoso ou burro. Francamente, nunca ouvi a frase num contexto que fizesse referência ao ritmo. Podemos até pensar que a frase é empregue mais que conscientemente, já que substitui cul (cú) por fesses…como se não quisesse ser totalmente ordinário”
Abraço! Hiran.
Caro Hiran,
Além disso, vários jornalistas presentes testemunharam que Jérôme Valcke deu a declaração em inglês e não em francês; ou seja, além de mal educado, o rapaz é mentiroso.
Veja:
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2012/03/06/jornalista-diz-que-entrevista-foi-em-ingles-e-que-valcke-mentiu-sobre-traducao.htm
http://oglobo.globo.com/esportes/valcke-falou-sobre-pontape-no-traseiro-em-ingles-nao-em-frances-4246844
Abraço,
Plínio