Meu artigo publicado na edição de hoje (7/6/2012) do O POVO.
Com que roupa?
Plínio Bortolotti
Feriado, vamos de assunto mais leve. O caderno Vida & Arte (3/6/2012) trouxe debate sobre assunto que mobilizou as redes sociais. O professor Alexandre Araújo, curso de Física da Uece, foi impedido de participar como selecionador de banca que avaliaria candidatos a uma vaga professor para a universidade. Motivo: vestia bermuda.
Araújo, convidado pelo jornal a escrever sobre o tema, desandou a comparar o que é incomparável. Aliás, é tática comum em casos assim transformar idiossincrasias em verdadeira luta de classes.
É o que faz o professor ao dizer que “os trajes (…) refletem, no fundo, relações hierárquicas de dominação”. E mais: “Enquanto engravatados e togados tomam decisões contrárias à vontade popular, bermudas e chinelas são barradas na porta de tribunais e Assembleias”. A catilinária continua: “Eu, que desejo uma universidade a serviço da maioria da população, não vejo problema em fazer ciências de bermuda”.
Eu também não vejo problema nenhum em fazer ciência de bermudas ou mesmo nu, desde que o professor o faça em sua casa, nos poupando o espetáculo. Quanto aos demais argumentos, pergunto: o que uma coisa tem a ver com a outra? Ele acha que se um juiz julgasse de bermudas, estaria mais perto do povo? Que decidiria de modo mais justo?
O professor também investe contra a farda, medida igualitária, a meu ver. Na época em que nos colégios públicos estudavam ricos, remediados e pobres, a farda era uma forma de dizer: aqui ninguém é melhor do que o outro.
O ex-presidente José Sarney, se não tiver nenhum outro mérito, o tem por uma frase: “É preciso respeitar a liturgia do cargo”.
Resumindo: é justo que alguém seja barrado se quiser entrar vestido em uma praia de nudismo; do mesmo modo que seria correto impedi-lo de entrar pelado em um evento em que se exige terno e gravata. Aliás, neste último caso, estaria na regra do jogo barrá-lo, mesmo se estive vestindo… bermudas.
Sou professor da UECE e lamentei profundamente a atitude do ilustre professor. Considerei desrespeito aos que iriam ser avaliados.
Parabéns pelo artigo.
Mas pode ir fazer a prova ( vestibular) com vestido, shorts? Ou só pode ir de calça comprida?