Meu artigo publicado na edição de hoje (21/6/2012) do O POVO.

Ilustração: Hélio Rôla (clique para ampliar)

Brasileiro não sabe votar ou falta alternativa?
Plínio Bortolotti

“Brasileiro não sabe votar.” Quem nunca ouviu essa frase, dita pelo menos uma vez, por pessoas notórias (lembram de Pelé?) ou gente comum?

O tema voltou à baila, com certa violência, na disputa para o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando se atribuiu sua eleição aos nordestinos, vistos (por certo segmento preconceituoso) como suscetíveis a trocar seu voto pelo Bolsa Família.

De modo geral, as pessoas – sendo pobres, classe média ou ricas – votam, a maioria, visando os seus próprios interesses. Por que os fazendeiros votam nos candidatos ruralistas? Por que os comerciantes optam por aqueles que prometem reduzir os impostos? Por que os industriais escolhem os que prometem dar mais incentivos à indústria?

Ok, podem dizer que votam pensando no bem do país; do mesmo modo que um beneficiário do Bolsa Família pode replicar afirmando que está pensando para além de seu problema individual, argumentando ver a redução da miséria com um modo de tornar o Brasil mais justo, portanto, mas propenso ao desenvolvimento, benéfico a todos.

E assim ficamos conversados.

Mas tem outra coisa: só se pode votar nos candidatos disponíveis, não há como inventar um perfeito. E, enquanto faltar financiamento público de campanha; enquanto o tempo “gratuito” de televisão for determinante; enquanto os marqueteiros tiverem mais valor do que as ideias – mais imperfeitos eles serão.

Que alternativa tem, por exemplo, um eleitor de São Paulo que queira deixar fora do poder um político, digamos, “tradicional”, como Paulo Maluf, se aquele que se apresenta como “novo” o pôs sob as asas?

Dê uma passeada de olhos pelos candidatos de Fortaleza, o que o eleitor vê? Aliados de ontem, digladiando-se; adversários de anteontem se abraçando. Talvez veja uma massa disforme, que iguale a todos. O que o eleitor pode fazer?

Talvez se queixar como o poeta: “Mundo mundo vasto mundo/ se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima, não seria uma solução”.

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