Meu artigo publicado na edição de hoje (30/8/2012) do O POVO.

Arte de Hélio Rôla (clique para ampliar)

Os robôs, a burguesia e o proletariado
Plínio Bortolotti

A edição do New York Times/O POVO desta semana trouxe matéria sobre a crescente substituição da mão de obra humana por robôs, processo que vem se acelerando. Nova geração de robôs executa tarefas finas, até pouco tempo exclusiva de humanos. A situação provoca protestos de sindicatos, temerosos com o desemprego, ecoando o ludismo.

Por esses dias caiu-me às mãos a brochura “Projeto Alternativo”, do grupo Crítica Radical, tratando do mesmo tema, sob outra perspectiva. Para a Crítica Radical, a situação demonstra que o capitalismo atingiu seu limite histórico, pois o “trabalho morto” (das máquinas) agrega cada vez menos valor aos produtos – e torna os homens cada vez mais descartáveis.

Somente o trabalho “vivo”, executado por humanos, produziria valor. Com o avanço da robótica, “o valor novo adicionado por unidade de produto é insignificante (…) nem o trabalho e nem o tempo de trabalho são mais condições principais da produção. O trabalho começa a deixar de ser a fonte principal de riqueza e o tempo de trabalho deixa de ser a sua medida.” (Robert Kurz). Por isso, o “dinheiro não passa de uma ficção que se baseia unicamente na confiança mútua dos atores – confiança que pode se evaporar…” (Anselm Jappe). As crises americana e europeia seriam os exemplos mais recentes.

A parte mais provocativa da teoria radical – que reivindica os escritos de Karl Marx – é investir contra um dogma do marxismo tradicional, que diz haver duas classes inconciliáveis na sociedade: a burguesia e o proletariado. Para a Crítica Radical, o trabalho não constitui o “coração” da sociedade capitalista. Por isso, burgueses e assalariados teriam basicamente os mesmo interesses, ainda que o operariado seja o segmento mais explorado. E, sendo assim, não caberia ao proletariado o papel de “emancipador” da sociedade.

Segundo a Crítica Radical, o capitalismo somente será superado quando ruir o “fetichismo do mercado”, que faz com que a mercadoria governe os homens e não o contrário. Enquanto isso, na situação atual, restaria para as instituições (políticas, sindicais, etc.) somente a tarefa de administrar a barbárie.