Meu artigo publicado na edição de hoje (15/11/2012) do O POVO.

Ilustração de Hélio Rôla (clique para ampliar)

Diário de Classe
Plínio Bortolotti

A catarinense Isabela Faber*, 13 anos, tornou-se a mais nova celebridade da internet, devido ao “Diário de Classe”, página que criou no Facebook para falar do problemas de sua escola – e que ajudou a resolver algumas das mazelas. Ao mesmo tempo, a menina viu-se no centro de enorme polêmica.

Ela virou notícia de jornal, aparece na TV, recebe convites para palestras. Ao mesmo tempo, enfrenta a antipatia da maioria dos colegas, dos professores e da diretoria (o que era de se esperar). Sem falar nas agressões verbais e físicas que ela e a família enfrentam, injustificáveis sob qualquer ponto de vista: a casa deles foi apedrejada; a menina não pode mais ir à escola sozinha.

Poderia seguir a corrente e louvar o feito, sem embargos, porém, a situação merece análise. Mesmo porque os elogios, grande parte, não são para Isabela, mas para o “poder” que as redes sociais dá às pessoas, teoricamente.

Sou a favor do uso das novas tecnologias; sou a favor do incentivo à formação política (no sentido amplo) de crianças e adolescentes. Qual é então o problema?

Um dos casos denunciados, que tem trazido mais problemas a Isabela, é a pintura de uma quadra da escola, cujo serviço teria sido pago a um sr. chamado Francisco, que não teria feito a obra. Em uma postagem ela diz ter saído de sua casa para “procurar” o sr. Francisco, e pergunta: “Será que ele está ali atras comendo um peixe com dinheiro do meu pai e tomando uma cervejinha com o seu??” (Mantive o modo como foi escrito.) Primeiro, o pai não deveria deixá-la sair de casa para confrontar um adulto; segundo deveria orientá-la a evitar provocações indevidas.

Então, o meu meu problema é a forma equivocada como se usa esses novos instrumentos, por adultos ou crianças. Qual o limite em que o remédio se torna veneno? Será que Isabela já pensou por que obtêm milhares de cliques no “curtir”, mas não consegue convencer seus colegas da justeza de sua luta?

A internet coroa seus ídolos na mesma velocidade que os destrona. Quando a onda passar, o bônus ficará com os cultores da tecnologia; quanto ao ônus, Isabela terá de arcar com ele sozinha.

* O nome correto é Isadora Faber, conforme alertou leitor que deixou comentário. (Correção feita em 23/11/2012, às 8h05min.)