Meu artigo publicado na edição de hoje (29/8/2013) do O POVO.
Médicos cubanos: de “espiões” a “escravos”
Plínio Bortolotti
Como já anotara em outro artigo, “Bem vindos, médicos cubanos” (http://goo.gl/3nsoLr), defendo a presença desses profissionais no Brasil, porém: 1) considero equivocado o Brasil eximir-se da questão salarial, quando poderia intervir para melhorar-lhes a remuneração. 2) Outro problema é a declaração do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, negando, por antecipação, possível pedido de asilo de algum médico, argumentando que eles não vêm ao Brasil como refugidos: “Parece-me que não teriam direito a essa exceção; eles seriam devolvidos (a Cuba)”. O discurso de Adams é um inaceitável constrangimento aos cubanos e também é indigno das tradições brasileiras.
Outra indignidade contra os cubanos, recém chegados a Fortaleza, foi comandada pelo Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), que levou um grupo de “doutores” até a Escola de Saúde Público para vaiá-los, xingando-os de “incompetentes” e classificando-os como “escravos”.
O presidente do Simec, José Maria Pontes, depois afirmou que o protesto não era contra os colegas cubanos, mas destinado aos dirigentes do Ministério da Saúde – e culpou a imprensa por “deturpar” os fatos, provocando a “confusão”.
Três coisas: 1) se o presidente do Simec tivesse o objetivo de evitar a “confusão”, deveria ter escolhido outro lugar para o protesto (quem sabe Brasília?), e também teria evitado que os seus comandados gritassem xingamentos que, até as pedras sabem, foram dirigidas aos cubanos; 2) ele foi muito pouco original em sua desculpa para livrar-se da responsabilidade pela agressão, atacando a imprensa, do mesmo modo como fazem políticos surpreendidos em malfeitos; 3) o histórico pesa contra as entidades corporativas, que estão se valendo de todos os meios para evitar a presença dos cubanos, em lugares onde os médicos brasileiros recusam-se a trabalhar.
Mais uma coisa: já observaram que os mesmos que acusavam os médicos cubanos de “espiões comunistas”, de um momento para o outro transformaram-nos em “escravos”?
Lamento não encontrar nas páginas de O Povo um maior debate sobre o triste episódio que causou tanta indignação no país. Perdem os leitores e o jornal. Os seus textos no blog cada vez mais se confirmam como paliativo de lacunas e o omissões do jornal.
Caro sr. Marcelo,
Como descarto que o sr. esteja escrevendo de má vontade, sou levado a crer que não está prestando atenção ao que publica O POVO, pois o jornal vem abordando o caso em suas páginas praticamente todo dia. Rapidamente, me lembro da edição de 18/9/2013, uma reportagem especial em que o repórter viajou a cinco cidades do interior para verificar o funcionamento de postos de saúde. E, nesta semana que passou, o tema foi assunto de todas as edições, incluindo uma manchete de capa, ocupando meia página, na edição de 28/8/2013. Sem contar o editorial do jornal e os inúmeros artigos que vêm sendo publicados sobre o assunto.
Com atenção,
Plínio